domingo, 20 de janeiro de 2013

O brilho da Lua de Março é diferente

Generosa Cantante tem 74 anos. Não sabe ler. Não sabe escrever. Exibe a licença de condução de velocípedes tirada em Setembro de 1960 (que ainda guarda na carteira).
Não foi à escola. Aprendeu a escrever o nome porque o seu irmão queria que ela fosse a sua madrinha de casamento. Copiou várias vezes até ser legível. É isso que sabe escrever. Assim, aprendeu a escrever o seu nome aos 21 anos. Tem o seu B.I. e o cartão de Eleitor assinados.
Não foi à escola porque teve que tomar conta dos irmãos mais novos.
Ditava frases para a menina que tomava conta e para a própria filha: “O pão é um alimento que aparece na mesa de toda a gente. O pão é feito de milho, trigo e até de cevada”; “ O amor de mãe encerra tudo quanto pode haver de generosidade e sacrifício. A mãe é santa que nos adormece, embalando-nos com ternura nos passos vacilantes de criança”.
As contas que sabe fazer são só as de somar.
Nunca comprou fiado; “não tinha dinheiro, não comprava”. Nunca quis «esmola». Diz que sempre fez um controlo do dinheiro. Não gasta se não o tiver. Não compra fiado, repetia-me.
Antes de ter o segundo filho não tinha nem uma cadeira. Comprou-a para que a parteira se pudesse sentar.
Conta que teve que vender porcos de forma a conseguir dinheiro para poder visitar o marido que esteve 2 meses internado no Porto com um enfarte (perdeu um pouco da visão). “Aguentei muito; não recebíamos fundo de desemprego… Generosa foi e é uma mulher do campo, mas sentiu necessidade de angariar dinheiro, fazendo serviço de mulher a dias. Desta forma, conseguiu o abono para os filhos.
Adora andar no campo (mas dá prejuízo, repara). Dá-lhe prazer apanhar os produtos da terra, debulhar o milho à mão...
Gosta muito de passear e conhecer sítios diferentes. Fez referência a Monção, onde visitou uma capela de uma quinta: nessa capela, os empregados ficavam separados dos patrões por uma parede. Mas não pretende fazer mais passeios, pelo menos para breve: tem que ajudar o filho de 48 anos que se encontra desempregado e não recebe qualquer subsídio.
Terça-feira é dia de folga, porque quer ir à missa com boa disposição.
Não gosta de estar em casa o dia todo. Não pára.
Perguntei a Generosa o que de mais importante ensina aos seus netos:  "Que trabalhem e que poupem, porque, talvez, ainda vão viver pior que nós".
Não deixa de ter as coisas, apesar das dificuldades: sabe escolher, seleccionar e procura fazer o máximo de coisas em casa, evitando comprar.
“Temos que guardar para ter… Fazer uma vida económica”.
"Fale-me das fases da Lua… gosto de a ouvir…", pedi. «O Senhor morre na lua cheia de Março e nasce na lua Nova como nascem os animais e as meninas. Os homens nascem na Lua Velha».
Generosa disse que às vezes se põe a olhar para a Lua, que tem outro brilho na altura da Páscoa (para iluminar o Senhor).
Generosa tinha o sonho de ser cozinheira profissional. Deixou perder a oportunidade de fazer um curso em idade adulta porque teve vergonha de se dizer analfabeta.
Não vai à cabeleireira. Foi apenas uma vez, mas sentiu-se mal depois. Pintava o cabelo sozinha, mas agora é a filha que a ajuda e lhe compra os produtos.
Serviu-me um chá de cidreira com as folhas que ela própria apanhou e colocou a secar. Um sabor único … (na casa da minha avó?)
Esteve sempre com um sorriso nos lábios, feliz, durante todo o tempo que durou o nosso encontro nesta véspera de Natal.

1 comentário:

  1. Rogério Gonçalves

    Apesar da crise e dos constantes cortes ao dinheiro do povo que tenta sobreviver, vamos assistindo todas as semanas muitos dos casos que envolvem milhares de euros e fraudes e nada acontece, ou vivêssemos em Portugal. Agora falam muito nas exportações e a necessidade que temos em vender os nosso produtos no estrangeiro, para equilibrar a nossa balança comercial. Mas continuamos a ver os nossos políticos com as mesmas mordomias como se nada de grave acontecesse no Pais, pois só povo é que paga a brincadeira destes senhores. O famoso e imprescindível submarino que foi o sr.Paulo Portas que comprou com se fosse uma grande prioridade Nacional, pois veio relatado na imprensa que o mesmo se encontra parado para poupar combustível...ahahah apetece-me sorrir, estou na Maia.
    Mas eu sei a razão porque as nossas exportações estão em queda:
    Só exportamos o Durão Barroso e o Vitior Constâncio!!!
    Mas fica aqui o alerta para as entidades da U.E., que podem levar mais 500 políticos que oferecemos outros tantos de borla...

    Seja como o fogo…saiba aquecer quem precisa, e queimar quem merece!

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