quinta-feira, 14 de março de 2013

O Sofrimento das Árvores

Ao longo de todos estes anos tenho visto as mais variadas árvores. Que digo eu? Todas as árvores são diferentes. Altas ou baixas, gordas ou magras, perenes ou caducas, com fruto ou flor, ricas ou pobres, cómicas ou sérias, elas são todas diferentes e iguais. Árvores! Em Portugal não gostamos de árvores. Está mais do que visto. Podas arbitrárias, incêndios assassinos e abates indiscriminados. Esse ser incrivelmente belo, e fundamental para a nossa existência enquanto seres humanos, não é acarinhado e cuidado como devia.
As árvores sofrem. Sofrem por nós. No Inverno, com os ventos ciclónicos de certos dias, elas são fustigadas impiedosamente e resistem, na sua maioria. Mas ficam com mazelas. Algumas não resistem. E morrem. Outras ficam feridas com galhos partidos. Nos jardins, a seguir ao temporal, vê-se espalhado pelo chão restos de galhos partidos, sinais do sofrimento vivido na noite anterior. Gosto tanto que por vezes me abeiro delas e as afago no sem tronco duríssimo. São seres incríveis e majestosos. Por vezes imponentes, quando duram dezenas ou centenas de anos. E dói vê-las serem abatidas. De repente, onde numa praça estavamos habituados a ver uma árvore de muita idade, fica um vazio. O homem às vezes abate-as sem justificação, outras porque estão doentes. E descobriu que nas feias cidades que constrói elas dão um encanto especial. Na única bonita cidade de Portugal poucas árvores se vêem porque não é preciso enfeitar o feio da cidade com estes seres majestosos. São as diferentes e lindíssimas árvores que encontramos que mais me seduz numa cidade.

Em sua homenagem gostaria de deixar aqui um verso de António Ramos Rosa e uma fotografia minha tirada na Ria da Aveiro que me faz lembrar Sancho Pança e Dom Quixote.



Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

António Ramos Rosa



1 comentário:

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