quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mário Viegas: o interventor directo

Em Abril de 1996, o notável Ator Mário Viegas deixou-nos. O seu desaparecimento foi considerado a maior perda para o teatro português do século XX. Com admirável energia soube dizer todos os sentimentos e paixões. Provocador do riso e das inquietações: Foi génio; burlesco; trágico; sarcástico; irónico; cáustico; assustado; corajoso; desbragado; desassombrado; cruel; cortês; resistente; militante por e com Abril de 1974. Um multifacetado. A crítica esquece-o, os jornais não falam dele. O poeta Alexandre O’Neill também esquecido dizia:” Portugal: Questão qu’eu tenho comigo mesmo/ meu remorso de todos nós.” Revelou-se igualmente no cinema, para realizadores como: Artur Semedo, Fonseca e Costa e Manuel de Oliveira. Escritor, poeta e declamador disse vários poetas: Sena, Manuel da Fonseca, Eugénio d’Andrade, Vinícius, Neruda, entre outros. Deste ouvi-o dizer sentidamente “Ode ao Pão”:  «Todos os seres/ terão direito/ à terra e à vida/ e assim será o pão d’amanhã/ pão de cada boca/ sagrado,/ consagrado,/ porque será o produto/ da mais longa e dura/ luta humana. »

Mário Viegas fundia-se nas palavras e nelas se encontrava. Era as palavras que dizia. Para ele, as palavras eram vida! Com dificuldade ergueu o seu espaço cénico, a Companhia Teatral do Chiado-Teatro Estúdio Mário Viegas. Aqui, presenciei-o a representar, era a maior figura carismática do teatro português. Será recordado pelo exemplo de Homem livre e insubmisso, pelo amor ao teatro, à poesia, ao cinema – à Cultura! O teatro é o cinema ali à mão de semear, as telas são de corpo e alma. Ao vivo. Os atores não podem falhar. Não podem repetir não sei quantas vezes a mesma ação como no cinema. O Teatro é a Arte que respira e transpira Vida! 
Vítor Colaço Santos

1 comentário:

  1. A ideologia não deve levar-nos à injustiça. Porque era considerado um homem de esquerda e num período em que já era possível sê-lo sem grandes prejuízos, talvez seja exagero considerá-lo a maior perda do teatro português do século XX. Actores como António Silva, Vasco Santana,João Villaret, Palmira Bastos e tantos outros marcaram uma época bem difícil para os artistas nacionais. Foi um grande homem de teatro, mas felizmente tivemos mais que não lhe foram inferiores. Contudo, saúdo-o por nos trazer à memória valores pátrios de que nos podemos e devemos orgulhar. Parabéns.

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