domingo, 7 de abril de 2013

Os heróis de ontem...aos mercenários de hoje


I
Sou autor de perto de seis centenas de cartas publicadas em diversos jornais, que recorta e guarda religiosamente esses bocados de jornais com enorme prazer. Onde procuro como cidadão expressar a minha opinião nos mais diversos assuntos. Mas há no entanto um assunto, que por norma nunca tive a ousadia de falar=escrever, foi quando da minha passagem por terras africanas, quando do serviço militar obrigatório. Somente uma vez, tive essa tal ousadia, que sempre me tem faltado, e enviei um “escrito” para o “Correio da Manhã” que foi publicado naquele diário no já longínquo dia 9 de Novembro de 1999, para falar sobre a minha passagem pela ex-colónia ultramarina Angola, quando do cumprimento do serviço militar obrigatório. Como tal, nunca me despertou a curiosidade ou tenha interesse em contar histórias acerca de alguns momentos menos agradáveis que vivi, mas não pensem os leitores ou que se ponham a imaginar que existem “fantasmas” a bailarem na minha cabeça ou que seja "tabu" em falar sobre este tema. Talvez a realidade e a culpa seja somente uma, alguma preguiça que me impede de poder contar algumas facetas, mas penso ao mesmo tempo, que tenha pouco interessante para o(s) leitor(es).
II
A Revista “Combatente”, da Liga dos Combatentes na edição de Março de 2011, deu o devido relevo para assinalar os 50 anos do início da Guerra em África no espaço Destaque, com um tema bem sugestivo, “A guerra em África foi um esforço tamanho da Nação”.
Foi efectivamente um esforço de todos, não só para todos aqueles jovens que foram chamados e que estiveram envolvidos directamente no cumprimento das suas missões em terras africanas, como igualmente para todos os nossos familiares, que também eles estiveram igualmente envolvidos, mas de outra forma, e que igualmente tiveram um papel de grande relevo, fundamental e importante, cabendo a eles, uma grande quota-parte da nossa missão, transformado num acto de grande espírito de sofrimento, também de grande heroísmo, e de muita ansiedade vivida ao longo do tempo da nossa ausência e que assim foi repartido por toda a Nação, naqueles anos em que fomos chamados a cumprir tão digno dever patriótico.
Fui por imposição, assim como o foram milhares de outros jovens que em nada lucraram e que até ao momento infelizmente o Estado português, ainda não reconheceu ou recompensou de todo o nosso sacrifício…como tal, não fui nem me considero mercenário, assim como o não foram todos aqueles da minha classe.

III
Vem este escrito (à laia desabafo), a propósito de ter lido num jornal diário da capital, uma frase em que o Capelão do Exército no Kosovo, padre Guilherme Peixoto…afirmou, e passo a citar…”Quem está em Portugal não imagina o sacrifício que os nossos militares fazem quando estão em missão no estrangeiro, longe das respectivas famílias”.
É verdade e deve ser um enorme sacrifício…
Mas...Provavelmente deve ser igualmente um grande sacrifício para esses militares e respectivas famílias, quando auferem os gordos contratos que auferem e que os levam em missões para o estrangeiro, comparando…para aquilo que ganhávamos quando das nossas missões em África…vai uma grande diferença, não acha Senhor Capelão ?
   
                     Mário da Silva Jesus                                                               
     O autor escreve segundo a antiga ortografia

2 comentários:

  1. Meu Caro Mário da Silva,
    Até para não falar do 'humilhante' tratamento dado a esses pseudo militares aquando da época natalícia, altura em que se choram 'lágrimas de crocodilo' por aqueles que estão longe das famílias, as quais estão agora à mão de semear graças às novas tecnologias, quando nós, os 'voluntários', íamos para o Ultramar e o elo de ligação com os nossos entes queridos era somente o 'aerograma'.
    Um abraço, consigo no que bem escreveu.
    Do ex-furriel miliciano José Amaral, do Batalhão de Caçadores 1877, da CCaç. 1500, na Guiné, de 1966 a 1968.

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