segunda-feira, 29 de abril de 2013

"Precisamos seriamente de conversar"

Ontem li a crónica do padre José Tolentino Mendonça no Expresso (não costumo comprar):
"os modos da existência contemplativa foram despojados da sua áurea e só a vida ativa é considerada legítima;
Deixou de haver lugar para itinerários de natureza espiritual, artística ou política, dos quais pudessem brotar a evidência de dimensões humanas que a atividade laboral não cobre;
(...) naquelas realidades que a crença ou as artes iluminam;
(...) a satisfação das necessidades vitais impôs-se como o verdadeiro (para não dizer exclusivo) elemento polarizador da atividade humana;
Vivemos para trabalhar e para consumir.
(...) Os irrazoáveis números do desemprego testemunham a extensão da incerteza em que naufragámos.
(...) frustração, irracionalidade e solidão.
(...) A implacabilidade do sistema de trabalho cada vez menos respeita e acolhe a fragilidade da vida. os trabalhadores têm de ser perfeitos e neutros como as máquinas que os rodeiam.
(...) Quer-se maior qualidade e menor investimento."
Mas julgo que a última frase, intrigante e fundamental, que Tolentino coloca, "Precisamos seriamente de conversar " foi o que mais me chamou a atenção.
Quem precisa de conversar ? Tolentino e os leitores? Tolentino e o Governo?
Sim, temos todos, em plena democracia, de nos sentarmos para conversar. Assim, desta maneira, as «coisas» não podem continuar!
Não podemos adiar mais, sob pena de nos tornarmos máquinas, "neutros e perfeitos" tão ao agrado de quem nos governa...


4 comentários:

  1. O cerne da questão é que as pessoas tornaram-se egoístas e o conversar é conviver, é dar atenção aos outros de forma recíproca. A ganância, ainda que de forma muito moderada nalguns, ganhou um espaço alargado na vida social. Há gente disponível, sempre, para ir nas listas políticas para qualquer lugar que seja pago, desde o elemento da Assembleia de Freguesia (que recebe senha de presença) até ministro ou secretário de Estado. Para as pequenas colectividades, onde se convive e se trabalha por amor à causa, vão rareando os disponíveis. É um estado de alma que se foi cultivando e que é difícil dar-lhe a volta. São poucos os que entendem que temos de conversar e ainda menos os capazes de organizar uma agenda com qualidade e futuro. Ainda bem que este assunto veio ao de cima, o que prova que a esperança no entendimento entre as pessoas ainda não está perdida. Valha-nos, ao menos, isso.

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  2. Os cafés eram espaços privilegiados, fosse nas aldeias ou nas grandes cidades, para se conversar. Mesmo nas grandes cidades ficaram famosos certos cafés pelas tertúlias que aí se formavam. Nas pequenas vilas eram um espaço de excelência de convívio. Em miúdo lembro-me de que o meu avô todas as noites saía para ir ao café. E, curiosamente, nunca frequentava sempre o mesmo como que para estar com diferentes amigos e ter diferentes conversas. E eu lá acompanhava, por vezes, para levar umas "tareias" no jogo das damas. Hoje temos o Facebook...

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  3. É importante conversarmos através das redes sociais, mas isso, que é um substituto da presença, continua a ser muito pouco. É preciso que nos encaremos olhos nos olhos e não atrás de biombos, mesmo que o frente a frente, por ser mais verdadeiro, possa trazer, por vezes, algum desconforto. Viver é estar perto.

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