sexta-feira, 14 de junho de 2013

Brutalidade desumana



A propósito da greve dos professores marcada para o próximo dia 17 muito se tem dito. O ministro Nuno Crato e seguidores acusam os professores de estarem a ser violentos com os seus alunos, de se mostrarem insensíveis aos seus anseios e necessidades, que estão a por em causa o estudo e a preparação dos infantes. Esquecem a violência que representa enfiar turmas de 30 alunos numa sala, quais sardinhas em lata e que, no que ao estudo e preparação dos exames diz respeito, esta sobrelotação do espaço (físico e psicológico) é, no mínimo, desumana e contraproducente. Ou talvez não se esqueçam disso, talvez apenas lhes falte a coragem para reconhecer que a qualidade do ensino não sobrevive às medidas que têm vindo a implementar a toque de caixa, no seguimento das políticas educativas de Maria de Lurdes Rodrigues que tão diabolizada foi pelo actual ministro quando este assumia o papel de comentador atento e inteligente. Compreendemos cada vez melhor como é fácil falar. Talvez prefiram ignorar que um professor do ensino secundário dificilmente consegue cumprir os programas ciclópicos que é obrigado a impingir aos seus alunos. Já era difícil com turmas de 24, com turmas de 30 é uma missão virtualmente impossível. No meio da multidão muitos são os que ficam para trás. Vive-se, nas escolas, uma espécie de Lei da Selva, impõe-se um Darwinismo implacável; neste ambiente caótico salvar-se-ão as escolas privadas, imagino eu, onde quem tem dinheiro paga por mais espaço nas salas de aula e por mais e melhor atenção da parte dos professores.
Senhor ministro, senhores secretários de estado e demais ilusionistas do ensino, não venham com conversas vazias sobre a vossa preocupação com o futuro dos alunos e a brutalidade dos professores grevistas. Assumam as vossas responsabilidades na degradação do sistema de ensino que nós, professores, sempre cá estivemos, estamos e estaremos para assumir as nossas, quando for caso disso. A questão das 40 horas não me (nos) incomoda, se isso não significar mais serviço lectivo. E não incomoda por uma razão muito simples: qualquer professor empenhado e comprometido com o seu papel de educador trabalha muito mais do que isso sem que seja necessário vir quem quer que seja ralhar e apontar o dedo.
O único objectivo do ministério da educação é, de há alguns anos a esta parte, muito simples: reduzir os custos. As metas pedagógicas, as avaliações de professores e demais cavalos de batalha que por aí andam à solta são tretas. Nada mais.

Carta enviada à Directora do jornal Público

1 comentário:

  1. concordo consigo, Silvares:"qualquer professor empenhado e comprometido com o seu papel de educador trabalha muito mais do que isso sem que seja necessário vir quem quer que seja ralhar e apontar o dedo."

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