quarta-feira, 30 de abril de 2014

Amo-te

Anda, vá, vem comigo dançar uma valsa muito mais que “a mille temps”, o quê? Não queres? Não te apetece? Tudo bem, desde que existas para mim está sempre tudo bem, sabes quero-te como nunca quis nada nem ninguém, estive tanto tempo sem ti que quando apareceste fiquei perfeitamente deslumbrado já te tinha entrevisto algumas vezes quando na Lisboa de há muito tempo, calcorreávamos a noite feitos andarilhos e cantores de ti, não te conhecia como já te disse apenas te tinha entrevisto, talvez até um leve sopro de ti em mim mas sabes como sou, o importante passa-me quase sempre ao lado, sou aquilo que se diz um despassarado mas mesmo sem te ter saboreado tantas e tantas noites foram passadas a escrever teu nome, eu que não te conhecia já estava apaixonado por ti, eras nessa altura apenas uma premonição, um desejo adiado que em sonhos desfrutava, um beijo no pescoço sentido sem saber que eras tu, todos os meus momentos de alegria foram passados sempre que estavas presente, e eu não te via que troucha, dizem-me agora, é uma fada pequenina que guardo também dentro de mim e me costuma sussurrar segredos ao ouvido, que quando saíamos para cantar aquelas canções que nos eram escondidas estavas sempre presente e eu que sem saber, já te amava só que estava distraído, ausente, diz-me a fada que num dia 16 de Março quase nos encontrámos, foi pena, tinha-te agarrado como agora te agarro, beijado como agora te beijo, ficado perfeitamente perdido de amor como agora estou, sabes essas canções que nos eram escondidas agora e graças a ti já as cantamos, cantamos e ouvimos sempre que nos apetece, agora por exemplo não estou a ouvir nenhuma delas, estou a ouvir a Verónica Mortensen, e sabe-me bem, sabe-me quase tão bem como viver de braço dado contigo, quero-te tanto, tanto, tanto que esta folha não chega para escrever o quanto te quero mas tu sabes isso e sei que o teu sentimento por mim, aqui este mim pretende ser plural, é perfeita e totalmente correspondido, já não escrevo/mos o teu nome pela calada da noite, desfruto-te como quem respira, entre mim e ti a palavra separação não existe, somos unos, fundimo-nos, não posso viver sem ti, viver sem ti era como se de súbito tivesse uma fatal crise de asma que me levasse nas asas esbaforidas do vento, sou teu, integralmente teu como tu és minha, não sei conceber a vida sem ti a dar-me a mão ao meu lado ou de braço dado num qualquer jardim florido de muitas Primaveras, 40 para ser preciso, sim desde que me apareceste na vida que te conto como quem conta Primaveras, talvez porque o primeiro e real encontro se tivesse dado numa chuvosa manhã de Abril, vi-te, os teus cabelos esvoaçavam, a boca sorria-me, estendeste-me pela primeira vez as mãos que sôfrego, agarrei, e nunca mais larguei, nem mesmo quando naquele tórrido Verão te quiseram raptar ou mesmo matar, eu estava a teu lado tu estavas a meu lado e juntos conseguimos a façanha de ficares, tentam obstaculizar a nossa marcha, que nos importa podem vir todos os lobos travestidos de cordeiros que juntos o caminho é e será sempre nosso, sabes e eu sei que sabes que muitos cantam teu nome mas eu não tenho ciúmes, quantos mais te cantarem mais feliz serei, oh que disparate, lembras o que atrás disse? Que era um despassarado, que passo quase sempre ao lado do que é importante, reparo agora que ainda não disse teu nome mas para parecer culto e que graças a ti até leio todos os livros que me apetece e ensinas vou dizê-lo em francês e citando um amigo meu, o Boris, Boris Vian, “Ma Liberté longtemps je tais gardé”, sim é este o teu nome em francês mas o resto é mentira, sabes bem que não te guardei, não tenho espírito de carcereiro, foram os homens maus que durante longos 48 anos te mantiveram aprisionada, fazendo da tua a nossa prisão mas rompemos portas e janelas, libertámo-nos e libertámos-te, e nunca mas mesmo nunca deixaremos que esses seres tenebrosos voltem e te nos roubem porque com a tua partida partiriam também os sorrisos no rosto, o rir às escancaras, o futuro, tudo, tudo, porque sem ti nada é possível. P.S. – Amo-te

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.