quinta-feira, 19 de junho de 2014

As margens



As tempestades deste último Inverno vieram alertar, de um modo muito grave, para o problema da falta de respeito continuada na ocupação das margens dos rios e do mar. Desde há muito tempo que foram aparecendo construções em cima dos cursos de água para defesa das terras. Para algumas populações que viviam e vivem do mar as suas casas teriam razão de ali serem construídas. Porém, em cima dos areais, as construções foram crescendo, descontroladamente, para deleite de alguns terem a praia ali ao pé da porta.
E sem controlo e sem bom senso agora muitas margens estão a ser arrasadas pela natureza. Mas haverá coisa mais feliz do que abrir uma janela e termos a imensidão da água azul a brilhar aos primeiros raios do sol da manhã?
Vem isto a propósito dos projectos que estão aprovados aqui na margem do Tejo. Em Carcavelos há um grande espaço – a chamada Quinta dos Ingleses. É bordeada pela Estrada Marginal, mesmo em frente de uma belíssima praia. Deve ser aproveitado este espaço? Claro que sim. Mas o que está em causa é que já agora optaram por um mega projecto (neste meu querido Portugal tudo tem de ser mega já que o País é pequeno). Só condomínios privados serão três, mais um hotel, mais um colégio, mais 900 fogos e comércio, muitos milhões de investimento, muitos anos a construir e promessas de muitos postos de trabalho (?). Não seria mais adequado optarem por um projecto menos mega e mais de acordo com as reais necessidades de um correcto usufruto daquela espaço?
E agora voltemos a Oeiras. Também aqui os megas estão na moda. Retomo o Jamor. Claro que a nossa Câmara Municipal conseguiu que a Assembleia Municipal aprovasse umas construções na margem direita da Foz do rio Jamor, ali na Cruz-Quebrada.
Também terá torres para habitação e hotel, e marina que substituirá a praia que há muitos anos a natureza foi autorizando a existir. Terá de haver alterações de trânsito e… tanta coisa mais que os munícipes conscientes se arrepiam.
É que estudos e pareceres, já desde há muito conhecidos, sobre esta opção de construções em cima da margem desta foz e em cima da margem do Tejo chamam a atenção para os elevados riscos naturais a que vão estar sujeitas também os moradores desta vila.

Claro que quem vota contra estas atrocidades é olhado como inibidor do progresso das terras. Mas um dia a natureza enfurecida … como aconteceu este ano!

Publicado em 18 de Junho de 2014 no Jornal Costa do Sol

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