domingo, 15 de junho de 2014

REPORTAGEM NA HORA, DO CAMPEONATO UNIVERSAL DE MATRAQUILHOS





Cá estamos no tão esperado campeonato de matraquilhos, não há nada mais nos próximos dias que inche a peitaça a  ponto de rebentar os botões da camisa.

Para estarmos ao nível da concorrência (a equipa de profissionais do Pirolito) forte e bem falante, conseguimos em esforço, decorar o maior número de adjectivos de um dicionário , e ensaiar associações de ideias não ideias, que o editor principal nos obrigou a deglutir do dia para a noite.

Se os rapazes das outras estações estão cheios de poesia nos relatos, porque não havemos nós em esforço, tirar onde menos se espera - no relato de um livre,  num fora de jogo, numa troca de meia na linha de jogo - uma imagem única, que fidelize o nosso ouvinte/leitor?

É assim que conquistamos “share”, se bem que num dicionário de inglês fiquemos com a ideia, talvez vaga, que essa palavra quer dizer “partilha”.

O Homem , já nos telegrafámos – ele não,  o dedo treme, foi uma assistente –  continua sentado no seu sofá, na expectativa do grande jogo.  Está proibido pelo médico de se manifestar muito, até porque ele nem sabe muito bem qual é o grande jogo.

Se os de branco ganharem, pode emitir um esgar de prazer, se forem os outros fica proibido de sorrir sequer.

Nesta aldeia está uma quentura do caroço.

As mesas de matrecos, estão bonitas, pintadas de arco-íris. O chefe construtor – de uma simpatia e charme hipnotizantes – veio logo ter com a equipa do Pirolito. Pediu-nos, em voz baixa - rouquidão - um rapaz jeitoso, de confiança, para apitar algumas partidas.

Disse-nos quase em sussuro  - pelo dito problema laríngico - e acreditamos não ser fácil, hoje em dia encontrar um moço tímido, sério, entendido em penaltes, que não peça logo a seguir  uma sandes de couratos e até que se estique de mão estendida, não se entenda isto  como uma incorrecção de escrita – somos da escola do jornalismo desportivo – o “esticar-se de mão estendida”.

O chefe da festa está preocupado, não vai para novo e apoquenta-o muito a incompreensão humana    ( porque é que os chefes se preocupam tanto ?),  a falta de voluntários inqualificados para arbitrar.

 A gerente  dos botecos onde montaram os estádios de matraquilhos,  pediu-lhe um pequeno favor: anda com problemas em casa, todos refilam sem razão.

Ingratos! Vivessem eles a miséria dos outros, na Somália, Etíopia. Têm muito de que se queixar (é dela este desabafo, com meia tosta de caviar comida, dependurada na mão esquerda, após a cerimónia de abertura).

 Dias de festa são dias de festa, não se diz mal do croquete (estranho! Cá na aldeia, quando o homem teve a questão vagal, duas moças idosas entrevistadas na audiência, bem escolhidas e que apareceram na televisão disseram precisamente o mesmo!).

Um favor – aos amigos nada se recusa . A medalha que fique onde está.  Assim os meliantes provocadores , provocadores só porque não os deixam entrar para assistir aos jogos, vão aborregar, amaciar, vão deixar de cuspir para os centuriões, e partir os canteiros de flores.

Deem-lhes a medalha. A Dona acha que assim a coisa se compõe.

A malta quer é festa. Umas bagaceiras com lima e gelo , nádegas imponentes  a baterem palmas, uma contra a outra,  ao mesmo ritmo, e eles acabam por voltar, ébrios de submissão, às suas fabulosas casas com vistas para o paraíso e cheiro a esgoto em céu aberto.  Eles os insurrectos, meia dúzia.

Para além de bom jornalista e falar do tema de um modo quase literário, também me sensibilizam as boas causas: toca-me a sensibilidade do dono do negócio, e da dona que quer lucrar com o negócio.

Soubesse eu, tinha trazido comigo uma mão cheia de rapazes empreendedores e com jeito para o escrutínio: um penálti é quando um homem quiser!

Já vou tarde, mesmo assim ainda vou mandar uma pomba correio ao homem (espero que não olhe para a bicha como melro, custa-lhe o nome das coisas) , com os conhecimentos que ele tem pode que ainda arranje um punhado dos que escrutinam bem e venham dar uma mão humanitária ao tipo que organiza o campeonato e à sua lúcida e boa amiga.

Último apontamento de reportagem: Amanhã joga a equipa da nossa aldeia.


Amanhã não se trabalha, todos de olhos vesgos prostrados no plasma, mine na mão, no café do Aníbal, antes da batalha em palpites galarós, e depois, ou todos a chorar e de braço dado a cantarmos o hino do piquenicão, ou a maldizermos os malditos dos políticos, responsáveis pelo estado de má preparação a que a equipa chegou.

1 comentário:

  1. A carga está a ficar muito pesada. Um pouco de sentido de humor talvez alivie um pouco. Dou-lhe os parabéns e desejo que não perca a veia.

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