quinta-feira, 30 de outubro de 2014

E, ao cogitar, dei comigo em o 'Porto de Abrigo'

Já não sei o que se passa comigo, uma vez que cada dia que por mim passa encurto o tempo que terei para chegar ao fim da minha vida terrena, que outra não conheço, mas que ‘afortunados’ dela me fazem eco: com iluminuras e outras considerações, quiçá, sem dela também nada saberem, penso eu.
Portanto, o meu desassossego está a atingir os limites do admissível que eu levianamente admiti para tormento meu, uma vez que posso deitar tudo a perder, pois as rotações do meu natural propulsor já há muito que entraram no vermelho. E o curioso de tal questão altamente rotativa é que por mais que desacelere nada de mim obedece; comporta-se como um fogoso corcel tomando impetuosamente o freio nos dentes: vai tudo em frente e incontrolavelmente perdido, talvez estarei.
E, assim, já nem sei se terei ultrapassado a barreira do som ou a velocidade da luz a caminho não sei de quê. Mas que a luz me atrai, lá isso atrai, para, assim, me cegar finalmente.
 
E assim cogitando numa viagem de pouco mais de cem quilómetros, eu próprio conduzindo a viatura a caminho do interior da nossa portugalidade, onde os vagidos de quem nasce são cada vez menos e as lamentações são cada vez mais, dei comigo a ouvir um programa radiofónico chamado ‘Porto de Abrigo’, que penso nunca ter ouvido, ou já o tinha em estado premonitório?
Todavia, preso aos testemunhos de quem nele entrava no ar via telefone, logo me pareceram familiares as narrativas de tais radiouvintes falantes.
Então, constatei que o ‘choro do povo’ era genuíno e os exemplos dados eram verdadeiros e cruamente assertivos.
Só é pena que sejam somente os deserdados da vida, que o poder tornou ainda mais madrasta, a escutar tais lamentações.
Assim, o círculo encerra-se, uma vez que as corjas que lhes/nos deram cabo da vida não sintonizam tais rádios, não escutando, pois as suas/nossas mais profundas indignações.
 
José Amaral

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