quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Se a vida é uma estalagem ...

Se Pessoa construiu uma nova pátria em sonho, para não se entristecer com a memória da pátria que perdera, eu próprio houvera sonhado que a minha pátria, nas suas entranhas, não tinha tanta malandragem que a si fizesse tanto mal como tem feito, e de tal tenho constatado nesta minha vivência terrena, escondendo, com alguma vergonha, na memória esta minha desilusão original.
Assim, se Pessoa compara a vida a uma estalagem onde todos temos de demorar até que chegue a diligência do abismo, eu mesmo me sinto em tal bafienta estalagem, num desassossego muito dorido, sem saber lá muito bem se será melhor entrar já para a diligência ou resignadamente esperar mais algum tempo, vivendo a desilusão do presente a caminho do fim da minha existência, que tudo de mim levará sem qualquer tipo de compaixão.

Nota: este texto vai ser publicado no METRO de 3/11

José Amaral

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