terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Escolhas

Encontrei um pássaro morto, no meu local de trabalho. Recolhi-o, atravessei a estrada, coloquei-o na Natureza tanto quanto me era possível na ocasião. Não era lixo! Era apenas um pássaro, e morto. Mas pouco antes voava, vivia, era único. Não era lixo, não! A vida é demasiado única e preciosa.

Um mês atrás correu mundo o caso de Brittany Maynard, uma jovem com cancro que se decidiu pela eutanásia. Que terrível decisão. Não esquecendo que até a não-decisão seria ainda uma decisão, e igualmente terrível.


(cc0 por Ricardo André,
derivado de pixabay.com)

O que pensar da decisão, no nível pessoal? Creio que da vida faz parte a possibilidade de decidir como morrer, sinto-o como um "direito", inalienável. Só que falar para o ar é fácil, a morte, a nossa, está lá tão longe! Um interessante exercício é forçarmo-nos a encarar seriamente a situação. Tenho há meses na gaveta aqui ao lado um formulário de Testamento Vital. Naturalmente lembrei-me dele por estes dias. Merece ser visto, ser preenchido, ser assinado. Mesmo que se acabe por não o entregar, para se ter ideia das decisões que pode ter de tomar um dia. Doença e morte é assunto do mais desagradável, mas faz parte da vida, fechar os olhos não os fazem desaparecer. Aposto que depois disso poucos terão coragem de criticar esta ou aquela decisão, pois todas elas são graves.

Mais importante, neste espaço público, é pensar no papel do estado. O mesmo questionário merece ser visto desse ponto de vista. Lamentavelmente parece-me algo confuso, o que não é nada boa ideia num assunto tão delicado, em que se pretende, como nele se afirma, que a nossa vontade seja expressa de forma "clara e inequívoca". Esta relativa confusão relembra-me porque razão a razão me alerta para o perigo das leis dos Homens. Poderá o Estado regular convenientemente sobre a vida e a morte? Bem sabemos o quanto as lei são abusadas de mil formas, por mais bem intencionadas que sejam, por mais bem elaboradas que sejam. Deveremos dar aos Homens a possibilidade de usar da lei para de alguma forma levar outros a morrer? Não sei...

3 comentários:

  1. A vida, esse bem único, merecia mais atenção de todos nós. Ela passa depressa e é difícil agarrá-la conscientemente, tanto por nós, como pelos outros. Parabéns ao Ricardo por ter um bom momento de reflexão.

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  2. A vida, um bem precioso. Neste momento, sinto que é boa demais! Deixo aqui uma sugestão de leitura, a este propósito da vida, do seu sentido, de «acabar» ou «desperdiçá-la»: Um Homem em Busca de Um Sentido do psiquiatra Viktor Frankl, um médico sobrevivente a 4 campos de concentração nazis. Um livro que imperdível e que muda a nossa vida... (editora Lua de Papel).
    Ricardo, obrigada por este momento de sensibilidade.O primeiro parágrafo já é um tratado!!

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  3. Eu, às vezes, também dou comigo a pensar em coisas tão 'frágeis' que julgo que não deveria pensar ou agir assim, porque tenho vergonha que se riam de mim.

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