terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O artificialismo da UE


Esta revolta do povo grego contra as imposições da União Europeia, manifestada nas eleições legislativas do passado dia 25 de Janeiro, dando uma estrondosa vitória ao partido Syriza que ficou a 2 lugares da maioria absoluta, é um aviso de que as pessoas começam a estar fartas das forças políticas tradicionais e, desesperadas, voltam-se para quem traga um discurso novo, seja de direita ou de esquerda. A Grécia, com Alexis Tsipras e o Syriza e a França com Marine Le Pen e a Frente Popular, são as oposições do momento, vincadamente mais fortes.
A senhora Ângela Merkel, Primeira-ministra da Alemanha, é o rosto da austeridade imposta pela UE aos seus parceiros, que atravessam graves dificuldades económicas. Logo, a cena apresenta-se como um combate público entre uma nova versão de David (Grécia) e Golias (Alemanha e seus acólitos). Apesar da diferença de forças, sabemos qual foi o resultado da luta bíblica.
A comemoração dos 70 anos da libertação dos prisioneiros de Auschwitz, que hoje está a ter uma repercussão mundial através da comunicação, é um espinho cravado na nação alemã, e isso não é benéfico para a sua imagem. Dizer que há gente que passa fome e mendiga nas ruas de Atenas, que há 27 % de desempregados, que, na saúde, há falta de assistência e que a Europa, capitaneada pela Alemanha, impõe programas de austeridade quase desumanos, traz ao de cima um clima de desumanidade que julgávamos estar enterrado.
Ainda que possa ser acreditada como uma boa intenção, a criação da União Europeia cuja finalidade última seria o evitar uma 3.ª Grande Guerra, começou assente numa falta de democracia, pois a sua adesão não foi plebiscitada por todos os países que a compõem, salvo erro, apenas a Suécia o fez. Como é possível uma instituição de raiz não democrática dar directivas às democracias?
Os países têm a sua história e é dela que os seus naturais se alimentam, pois das suas raízes vêm os costumes, as tradições, as regras cívicas e uma soma de valores, que não podem ser apagados por um contrato selado entre cúpulas governamentais que, momentaneamente, estão no poder. Não é por acaso que, sub-repticiamente, a disciplina de História vai sendo retirada dos programas de ensino. Eu verifico isto logo no 1.º ciclo do ensino primário, onde a História e a Geografia, foram substituídas pelo Estudo do Meio. Não me refiro a outros países da UE, porque não tenho informação suficiente, mas, pelo caminho que as directivas da UE nos conduzem não deve ser muito diferente. Para o grande êxito da EU será necessário que se esqueçam as pátrias, e que os cidadãos se reconheçam, primeiro que tudo, europeus. Isto é, em última instância, uma lavagem ao cérebro das pessoas.
Qualquer cidadão ibérico tem mais afecto com os povos da América do Sul, Brasil, México. Argentina, etc., que com os povos europeus, por exemplo, da Finlândia, da Eslovénia, da Lituânia, da Letónia, etc.. Um dos grandes entraves para uma franca adesão dos países à UE, para além da história, impossível de apagar, e da economia, é a língua. Daí, esta “fusão” europeia não ter futuro, por estar assente numa confusão.

                                  27.01.2014                        Joaquim Carreira Tapadinhas

4 comentários:

  1. De facto, a BABEL é grande e diversificada. O ESPERANTO podia acabar com a hegemonia de algumas línguas europeias, como também os afectos para com os países latinos são-me mais fortes de que com os países nórdicos indicados.
    Se os países do SUL da Europa não se unirem, um dia somos retirados do nosso e belo clima, pois os nortistas invejam-nos muito por isso, que eles jamais terão. E, como só temos uma vida terrena, eles JAMAIS, JAMAIS, JAMAIS!

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  2. Excelente texto! Vivemos momentos históricos muito dinâmicos, logo quando nos tocou viver! que bom, estamos vivos agora e dizemos...

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  3. Obrigado aos meus Amigos José e Luís por se terem interessado pelo meu texto. Apenas e porque veio a propósito, informo que quando era novo praticava a língua esperanto, chegando a ter correspondentes no estrangeiro. Embora, hoje, esteja muito esquecido, continuo a ser sócio (n.º 17) da Associação Portuguesa de Esperanto, que tem sede em Lisboa. Em Montijo, no Ateneu Popular, que anteriormente se denominava ARO MONTIJANO ESPERANTO AMIKOJ, durante alguns anos leccionou-se o esperanto.

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  4. Foi publicado no dia 1 de Março, com cortes, e sob o título "A revolta do povo grego", na secção de Cartas dos Leitores, no Diário de Notícias.

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