quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

em O LIVRO EM BRANCO - páginas 90 e 91

“Os homens do êxito”

É tão excitante vê-los,
Tão ligeiros, tão felinos,
Tão bem seguros de si,
No seu andar apressado.
Usam sempre pastas bem cheias,
Pois tal é essencial,
Transportando inutilidades,
Velharias ou algo igual.
Não saem à hora certa,
Pois não têm horas pra nada,
Mas coincidem a saída
Com a do seu ‘super star’.
Nunca se espantam com nada,
Seja o que for anunciado,
Pois sentem-se ‘up to date’
Em tudo que julguem moda.
Usam, na linguagem, locuções
Americanas, cheias de tecnologia,
Espantando os demais
Com tanta sabedoria.
Vestem a celebérrima camisa
De colarinho branco engomado
E o restante às riscas
Pondo à margem os mortais.
E o heráldico emblema
Na lapela do casaco?
É por de mais o dilema!
Só queria ter um buraco.
Quando pensam em férias
É por questões de saúde …
Pois isto cai-nos tão bem,
Como caca em merda dura.
Fico, de facto, excitado,
Quando os vejo caminhar,
Pois não sei o que fazem
Estas mentes de pasmar.
Pasmem, pois, caros leitores,
Com estes “homens do êxito”,
Sabem tudo do nada
E do nada sabem tudo.

nota – poema coligido até outubro de 1988


José Amaral

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