segunda-feira, 30 de março de 2015

Viagem de autocarro

As minhas viagens de autocarro, transforma os meus fins de dia.

Entro, valido o bilhete com um cumprimento de circunstância , e desloco-me ao lugar disponível! Procurando sempre os lugares atrás, e aí começa a minha viagem.
Sem querer chamar muito a atenção porque o que procuro necessita de discrição, muitas das vezes fecho os olhos para ouvir o que me rodeia.
Podemos sempre dizer que este voyeurismo é discutível, mas não me interessa!  Quero ouvir um barulho ensurdecedor, quero os pregões e as conversas da senhora sua patroa que hoje estava mal disposta!.  A Avó com o seu neto ao colo a tentar acordar a criança que se deleita no  regaço.

Gosto do calão empregue, do "até amanha menina" Ou dos lamentos de que vai chegar a casa e ainda terá um monte de roupa para passar.  Da refeição para fazer, vociferando sem a acção perversa e maldoso  a quem  dedica   a acusação.
É soberba aquela pronuncia , sente-se no ar a essência da realidade, são assim as gentes do Porto.
Não existe iniquidade nos mais rudes palavrões, tudo é autentico,  tudo faz parte  de umas das mais puras linhagens .
É um tesouro, uma riqueza que não tem dono,  que não se dá, nem se compra, é uma autentica maravilha.
"-Ó menina, olhe que tem a bolsa aberta , tenha cuidado, que agora não se pode confiar em ninguém"!   Com  olhar atento do sr Alberto que todos os dias pelas 6 da tarde  deixa o seu posto da mesa de cartas junto ao bar , onde durante a tarde com os colegas de sempre, joga para  matar o tempo, "Antes que ele nos mate a nós". Remata a frase quase diária a quem todos conhecem o pregão.
A Afurada em frente não consegue ouvir o que se fala no 500, tem o Rio que nos separa que não lhe permite ouvir as  conversas, mas sabe!, Sabe que  que um dia destes passaremos por lá.
Elevo o meu braço e carrego no botão de paragem, o ecrã luminoso pisca  PARAR, a ultima coisa que ouço é a voz do 500- " Próxima paragem Museu do Carro Eléctrico"
Saio mas continuo a sorrir.

4 comentários:

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