quarta-feira, 29 de abril de 2015

"JE SUIS UBER"



Infelizmente não me surpreendeu, a decisão de um tribunal superior em mandar fechar a operação da UBER em Portugal. A corporação dos Táxis em Portugal é uma das mais poderosas do País. E as corporações do Estado Novo ainda perduram, na maioria dos casos. Esta é das mais sinistras, porque conseguiu afrontar uma empresa moderna, eficiente e que consegue em termos de relação preço/qualidade proporcionar ao utente um serviço de transporte digno, eficiente e mais económico. Experimentei algumas vezes este serviço, como milhares de outros utentes dos EUA, da Alemanha, da Suiça, da Irlanda, de Barcelona, da Holanda, do Reino Unido, de Turim, de Paris ou de Varsóvia. Fiquei muito impressionado com a qualidade do mesmo. Em primeiríssimo lugar, é totalmente seguro. Quando uma viatura é disponibilizada, recebemos via celular uma foto do motorista e identificação da viatura UBER. Há uma previsão de chegada do mesmo. A viatura, descaracterizada, é de excelente qualidade, limpa e de modelo recente. Na conclusão da viagem, o preço é pago através de débito em cartão de crédito, sem moedas, nem trocos. O recibo é enviado directamente para o celular do cliente. Pensei que nunca mais teria de aturar a má criação e arrogância da maioria dos taxistas de Lisboa, designadamente os do aeroporto, que se comportam como gangsters na sua relação com os clientes. Pensei que nunca mais teria de viajar em veículos velhos, incómodos e porcos. Pensei que em Portugal existia uma economia de mercado, em que o consumidor tem a última palavra. Estava enganado. Afinal tanto mal falam de Salazar e do seu Estado Novo das corporações, mas quando toca aos interesses, não se importam de ser "fascistas".
OBS. Publicado no jornal Público de 2/5/15

6 comentários:

  1. É uma questão cultural. Os tiques "fascisantes" não se perdem facilmente e, há um tempo para cá, até se vão recuperando. Os que têm algum poder cilindram os que o não têm. Vejamos o tal projecto de consulta prévia sobre a cobertura das eleições, vinda da Assembleia da República ou as contas pouco claras do funcionamento do Tribunal Constitucional. Aos actores nada é exigido, mantêm-se nos cargos, porque as raízes estão lá. Isto não tem concerto porque a democracia, em muitas situações, é apenas fachada. Um abraço lusitano.

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  2. Sem dúvida, amigo Joaquim. Há muitos anos, penso que na década de 80, um político-intelectual francês, Jean François Revel, publicou uma obra muito interessante, chamada, muito propriamente no caso em análise, "A Tentação Totalitária". O que me chateia, sinceramente, é que os novos totalitários, ou "democratas" com tiques totalitários, enchem a boca de democracia.
    Salazar, ao menos, foi intelectualmente honesto. Combateu os que queriam uma democracia parlamentar ou representativa, e teve a coragem intelectual de defender em texto escrito, que não acreditava nessa democracia representativa, apresentando as suas razões.

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  3. Gostei do texto, mas não sei opinar conveniente. Mas que existem muitos 'facholas' armados em 'democratas', lá isso existem, e mais do que pensamos.
    Por vezes, vejo-me nos dois campos opostos!
    Só a tumba remediará tal mal.

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  4. A vida é cheia de contradições, caro JBA. Uma prova da velhice, ou da sabedoria senior, é quando temos tempo para antes de fazermos um julgamento, analisarmos os dois lados da questão, ou dos seus dois actores, como se fôssemos nós próprios. Não é um mal por isso, é sabedoria. Pena que só chegue quando estamos mais perto da "grande viagem".

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  5. Publicado hoje, sábado, dia 2 de Maio, no jornal Público, assinado por Manuel Martins, que sabemos ser a mesma pessoa. Parabéns ao autor e ao jornal.

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    1. Obrigado Caro Joaquim, pelo amigo e amável incentivo. Abraço.

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