terça-feira, 14 de abril de 2015

Pagar Impostos


A sociedade portuguesa, numa trajectória de opressão, está a transformar o ser humano num irrecusável pagador de impostos. A perseguição é tal, que até as campas dos cemitérios, que durante séculos estiveram isentas de contribuição, já pagam impostos. Mesmo depois de morto a burocracia e a gula tributária não descansam de perseguir o cidadão. As famílias, para se defenderem, passaram a homenagear os seus queridos defuntos utilizando o crematório. A loucura e o descaramento são de tal monta que, nalguns casos, se pagam impostos sobre taxas e outros impostos que formatam o preço do objecto. Mudam-se os nomes, para parecer que alguns impostos desapareceram, só que esses encargos tributários se mantêm, agora com novas nomenclaturas. Alguns exemplos, ao acaso; a Contribuição Predial, foi crismada de IMI, o Imposto Sucessório, de Imposto de Selo, o Imposto de Transacção, que veio a abranger uma enormidade de produtos, passou a IVA, o selo do carro passou a Imposto Único de Circulação. Na alteração de nomes das repartições públicas, a Direcção-Geral dos Impostos passou a designar-se de Autoridade Tributária e Aduaneira, que parecendo um facto de somenos, não o é, porque agora, sendo autoridade, tem um poder maior e, legalmente, pode sufocar o cidadão, porque tem as rédeas do autoritarismo.  
Como se já não bastasse a desumana perseguição do Governo Central, as autarquias, sucedâneos políticos dos partidos do poder, criam as diversas taxas locais de serviços, que vão desde o pagamento do estacionamento automóvel às taxas sobre resíduos sólidos e líquidos, cobrados nos recibos da água, onde está também implantado o omnipresente IVA.
A Câmara de Lisboa, num acesso de demência, procura criar mais duas taxas para sobrecarregar os visitantes, ou seja, uma taxa para turistas que desembarquem no aeroporto e outra taxa para quem durma em hotéis ou pensões. Porque está atenta, e não quer ser indiferente à exploração do ser humano, a Câmara do Porto, mesmo sem as agarras político-partidárias que se diz, também acha que deve sobrecarregar o cidadão com uma taxa nessa área. Parece que Faro também está a postos.
Isto é mais que lamentável, porque denota uma falta de respeito pelos cidadãos, que de tão oprimidos, de cidadãos só têm esse malfadado e quase vergonhoso cartão.
Entretanto, o desemprego continua, e nós, que temos em atenção os dados estatísticas mas também temos os olhos na rua, verificamos o pequeno comércio em coma, as empresas a falir ou em processos de recuperação, os despedimentos em massa (AXA é mais um exemplo), os bancos com milhares de milhões de prejuízo, e o Governo, como se nada disto estivesse a acontecer, apresenta, pomposamente, hipotéticos programas de desenvolvimento num espaço de 5 anos, como se a fome de hoje pudesse ser satisfeita a longo prazo. Para nos entreter, a comunicação social tem o festim das eleições presidenciais e esquece o essencial.
14.04.2015

Joaquim Carreira Tapadinhas -  Montijo 

5 comentários:

  1. Meu Caro Amigo Tapadinhas, que destapou a preceito os roubos e assaltos que todo o poder instituído nos faz todos os dias e até de noite, faltando montarem parquímetros nos nossos quartos de dormir, tem toda a razão em mencionar a ladroagem que inumera, pois tudo paga imposto, imposto por um regime dito democrático, mas que de democrático tem pouco ou nada. Mas o povo, o sabedor do antanho, perdeu há muito a força e o viço, parecendo incapaz e ate amorfo em reverter tanta demoníaca formatação.

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  2. Obrigado a ambos, por lerem e comentarem o meu escrito. Isto é mais um grito de alma, que mesmo que não tenha eco nos responsáveis, terá algum efeito junto das pessoas conscientes deste desgraçado momento que vivemos.

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  3. Foi publicado hoje, no jornal Expresso, como a carta da semana.

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