domingo, 24 de maio de 2015

Os filhos da “cadeirinha”
Os actos de violência, praticados interpares, por crianças e jovens que, ultimamente, tem chegado ao conhecimento público, sendo alguns perpetrados com uma dose incrível de malvadez, deviam merecer uma profunda reflexão pelos mais altos responsáveis da nação. 
Os ministérios da educação, segurança social, administração interna e da economia, em princípio, deviam aprofundar a sua missão e não viver da espuma dos dias, e encontrar um caminho para assegurar um viver decente para o povo deste país. As crianças são o maior valor duma nação. Elas são merecedoras de toda a atenção e carinho, em todos os momentos da sua vida. Em vez de aumentar os horários de trabalho dos pais, deviam reduzi-los enquanto os filhos deles precisassem. As crianças são o futuro, e o futuro constrói-se no presente. Quem descura a obrigação de proteger e manter uma terna relação com as crianças está confundido e ajuda a propagar problemas sociais no amanhã.
Uma sociedade que tem como único objectivo final o lucro, ou seja a acumulação do capital, não pode respeitar o cidadão. O objectivo final tem de ser o bem social, ou seja, o bem do cidadão. Mas o cidadão começa a partir do parto, ou seja, do nascimento.
Na sociedade moderna, onde as famílias se desmoronaram, onde os avós, que antes estavam em casa, agora estão nos lares de idosos, onde havia um cantinho para um tio idoso e hoje não há, os pais, porque têm ambos de trabalhar para manter o equilíbrio das despesas familiares, têm, logo de manhã cedo, de retirar a cadeirinha do carro, e entregar a criança no jardim-de-infância. Esta meio-adormecida, olha agora a cara da recepcionista, que não é a da mãe e, daí a algum tempo, vai para a sala dos bebés da sua idade. Quando desperta, para tomar o biberão, já é outra pessoa que encontra à sua beira, ou é a auxiliar ou a educadora de infância. A criança sente em si a necessidade de criar laços afectivos e investe nas pessoas que lhe estão mais próximas. Mas, infelicidade das infelicidades, quando já sente uma aproximação afectiva, é mudada de sala e novas caras se lhe apresentam e, assim, sucessivamente durante alguns anos. Foi sucessivamente traída na sua inocência, porque investiu amor e foi defraudada. Agora dificilmente acredita em alguém e, nalguns casos, pode tornar-se rebelde, embora, na sua fragilidade, não consiga ainda extrapolar a sua revolta. Algumas destas crianças, anos depois, em espaços de mais liberdade, onde podem projectar o desamor acumulado, se não lhes for possível agredir os mais velhos, agridem os que estão ao seu alcance.
Sem ir à raiz dos problemas eles não têm solução, pois remendos não curam. Achamos interessante, os comentadores encartados, dizendo banalidades e lugares comuns sempre que sucedem casos de grande repercussão, sem saírem do círculo vicioso, recomendam os institutos de internamento de menores, donde, infelizmente, muitos saem piores de que quando entraram. Diz Ortega Y Gasset, e essa frase está sempre a ser citada, que há” o homem e as suas circunstâncias” e digo eu, modesto cidadão, que para ultrapassar a crise social com que nos debatemos, o “homem tem de ultrapassar as circunstâncias e ver para lá dos limites que os mandantes querem dele”.

23.05.2015 Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo 

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