sexta-feira, 5 de junho de 2015

Quando o futebol paralisa um país

Estes últimos dias devem ter sido uma alegria para a imprensa portuguesa. Já tinha observado que os temas sobre a actualidade já estavam praticamente esgotados. O início de cada notícia já não podia ser lançada sem um “Última Hora”, por mais irrelevante que fosse a notícia para o simples comum mortal. Ainda tenho na memória a notícia de que Cristiano Ronaldo foi apanhado a urinar na rua, e julgo que isso diz desde logo muita coisa.
Contudo na Quarta-feira estourou uma mina ainda com muita coisa por explorar. Hoje, Sexta-feira, ainda se fala nisso. Não há uma única capa de jornal que não tenha lá o assunto em destaque e, um único jornal online que não tenha mais do que três tópicos na primeira página. Estou a falar claramente da transferência de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting. Não menosprezando o interesse que esse tema possa ter para os fanáticos pelo desporto, ou até mesmo para aqueles que simpatizam com os dois clubes, mas pergunto: Qual é o real interesse para o país inteiro? Ontem por momentos até pensei que o país estava a atravessar o momento mais precioso deste mandato de Pedro Passos Coelho. Quase que esqueci a desigualdade social, o desemprego, a instabilidade financeira que o país enfrenta. A crise de valores sociais e morais e a crise da Europa, por momentos quase foram esquecidos. É certo que esta transferência tem um peso no mundo do desporto, mas um país não pode parar desta forma.
Mas até posso abordar o tema do momento. Jorge Jesus acaba de ter uma transferência milionária dentro de um país que quase chegou a banca rota. O dinheiro que irá pagar a sua transferência diz-se ser desconhecido, excepto um ou outro jornal ter sido mais audaz e ter assumido que terá origem da Guiné. Guiné, aquele país colocado na África conhecido por ser um país pobre e com grandes desigualdades sociais financeiras. Um salário anual de 5,5 milhões de euros é o que se diz. Valores simpáticos, para quem ganha num mês, pouco mais do salário mínimo.
Ainda assim vale a pena falar da transferência do momento. Há quem esteja profundamente indignado com o Jorge Jesus e até lhe chame de Judas ou até lhe deseje a morte. Incrível como nunca ouvi ninguém a exigir assim tanto de um Primeiro-ministro ou de um Presidente da República. Onde é que andam estas pessoas quando precisamos delas? Raramente ouço alguém indignado naqueles programas de opinião pública que são transmitidos nos principais canais de informação, alguém indignado e capaz de desejar a morte a alguém que arruinou um banco.
Sei perfeitamente que este texto é apenas mais um a esmiuçar e a remar contra a maré, mas jamais poderia deixar de o fazer. Não acho correcta a importância que a comunicação social está a dar a este assunto, ao ponto de até fazer notícia sobre as frases de um treinador analfabeto. Não faz sentido. É isto que faz vender jornais? O futebol faz de facto movimentar muito dinheiro, então acho que está mais do que na altura de serem os clubes de futebol a contribuir mais para o país, já que facilmente conseguem movimentar milhões. Talvez assim, até eu começasse a valorizar as novelas desportivas.

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