"Eles" fingem querer

Neste momento, é impossível saber-se como vai acabar isto tudo, embora comece a ser evidente que, afinal, os “senhores” da Europa não querem mesmo a companhia dos gregos. Fomos embalados, meses a fio, com a cantilena de que estes não estavam dispostos ao mínimo sacrifício para continuarem no euro. Parece agora evidente que, na realidade, queriam imputar aos “mandriões” helénicos a responsabilidade da cisão e puni-los ferozmente. É a luta entre o Bem e o Mal, com o Bem personificado pelos autênticos arautos da Virtude que são, entre outros, os seguintes: Schäuble, que recebeu, em nome do partido, um donativo ilegal de um traficante de armas; Juncker, que pensou que ser primeiro-ministro luxemburguês era favorecer escandalosamente certas multinacionais; Lagarde, isenta de impostos e que nunca se desenvencilhou do escândalo financeiro no caso Tapie; Dijsselbloem, inventor de diplomas de mestrados inexistentes; agora, mais um, Verhofstadt, ex-primeiro-ministro belga, actual eurodeputado e administrador de empresas financeiras, interessado em duvidosas privatizações “recomendadas” pela troika na Grécia. Tudo gente do mais fino recorte moralista.

Certamente para dourar a pílula, fala-se já numa saída temporária da Grécia durante 5 anos. O pior é se os gregos aceitam, recuperam e, na altura do regresso (será que ainda cá estamos todos juntos?), escolhem continuar sozinhos. Afinal, nada que os islandeses não tivessem pressentido quando, à cautela, retiraram o seu pedido de adesão à UE…    

(Texto escrito enquanto decorria a cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE, mas entendo que o essencial se mantém válido após a conclusão da mesma).