terça-feira, 25 de agosto de 2015

AMOR AOS LIVROS

                                          AMOR AOS LIVROS

Nada mais parecido ao homem do que o livro. Nem retrato ou estátua o reflectem melhor. Se o busto de Nefretite, a misteriosa Gioconda, o ardente Van Gogh parecem penetrar-nos na alma antes do os fixarmos na retina, o diálogo interior com a figura esculpida ou pintada permanece vago e estático, com o livro, não.
O autor fala connosco, cria o seu próprio ambiente, apresenta-nos a suas personagens, faz-nos viver o que ele viveu ou imaginou, abre-nos o seu pensamento, desafoga o coração… Podemos gostar ou não da sua convivência, mas ali temos alguém; não só uma obra sua.
Engana-se, por conseguinte, quem acusa de solipsismo os “ratos de biblioteca”. Pelo contrário, esse cavalheiro linfático e corcovado, sôfrego de papel impresso, vive rodeado de gente, e gente tão interessante que já nem suporta a vulgar conversa do vizinho…
Talvez lhe caia em cima a desgraça do Quixote, que, de tanto ler, “se le secó el cerebro”; não o taxem, porém, de solitário! Compreendam a sua paixão insaciável de humanidade, que na vida extrabibliotecária se reduz ao conhecimento de uns poucos indivíduos, geralmente insípidos pares ao seu gosto requintado. E se o tomo acariciado,olfactado, desfolhado, for velho, de séculos, muito melhor; é como se estivesse a ser lido em companhia de sucessivas gerações!
Livros são varandas sobre o mundo, estradas que percorrem lés a lés, milhares de intimidades abertas à nossa compreensão ou curiosidade, criações de novos mundos, e novas humanidades…
 Nota – Texto de monsenhor Hugo de Azevedo, publicado há vários anos no Jornal de Notícias, onde tinha uma coluna semanal, e transcrito por
Amândio G. Martins

                                           AMOR AOS LIVROS

Nada mais parecido ao homem do que o livro. Nem retrato ou estátua o reflectem melhor. Se o busto de Nefretite, a misteriosa Gioconda, o ardente Van Gogh parecem penetrar-nos na alma antes do os fixarmos na retina, o diálogo interior com a figura esculpida ou pintada permanece vago e estático, com o livro, não.
O autor fala connosco, cria o seu próprio ambiente, apresenta-nos a suas personagens, faz-nos viver o que ele viveu ou imaginou, abre-nos o seu pensamento, desafoga o coração… Podemos gostar ou não da sua convivência, mas ali temos alguém; não só uma obra sua.
Engana-se, por conseguinte, quem acusa de solipsismo os “ratos de biblioteca”. Pelo contrário, esse cavalheiro linfático e corcovado, sôfrego de papel impresso, vive rodeado de gente, e gente tão interessante que já nem suporta a vulgar conversa do vizinho…
Talvez lhe caia em cima a desgraça do Quixote, que, de tanto ler, “se le secó el cerebro”; não o taxem, porém, de solitário! Compreendam a sua paixão insaciável de humanidade, que na vida extrabibliotecária se reduz ao conhecimento de uns poucos indivíduos, geralmente insípidos pares ao seu gosto requintado. E se o tomo acariciado,olfactado, desfolhado, for velho, de séculos, muito melhor; é como se estivesse a ser lido em companhia de sucessivas gerações!
Livros são varandas sobre o mundo, estradas que percorrem lés a lés, milhares de intimidades abertas à nossa compreensão ou curiosidade, criações de novos mundos, e novas humanidades…
 Nota – Texto de monsenhor Hugo de Azevedo, publicado há vários anos no Jornal de Notícias, onde tinha uma coluna semanal, e transcrito por
Amândio G. Martins

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