terça-feira, 18 de agosto de 2015

ANTÓNIO FEIJÓ

                          RECORDANDO ANTÓNIO FEIJÓ

Licenciado em Direito por Coimbra, António (Joaquim de Castro) Feijó exerceu advocacia por algum tempo, até se virar em definitivo para a carreira diplomática.
Começando pelo Brasil, onde foi admitido sócio da Academia Brasileira de Letras, seguiu daí para a Suécia, onde viveu cerca de vinta anos, casou e teve filhos; mas a morte prematura da mulher tê-lo-á de tal forma abalado que pouco tempo lhe sobreviveu.
A passagem de ambientes tão exuberantes como o seu Minho natal e o Brasil, para um clima como aquele dos países nórdicos, foi um choque de que nunca se libertou:
Terras do Norte,meu longínquo exílio!
Águas tranquilas, pinheirais, rochedos…
Por estes bosques nunca andou Virgílio,
Nem melros cantam nestes arvoredos…
                     (…)
O azul do céu é desmaiado e frio;
O azul dos olhos sem fulgor latente;
Doira os cabelos este sol de estio
Mas não aquece o coração da gente…

E suspirava pela sua Ribeira-Lima, que não voltou a ver.

São águas claras sempre cantando,
Verdes colinas, alvor de areia,
Brancas ermidas, fontes chorando
Na tremulina da lua-cheia…
             (…)
Olhos d`Aquela que eu estremeço
Se de tão longe pudésseis ver-me!
Olhos divinos que eu nunca esqueço
Morro de frio, vinde aquercer-me…

O AMOR E O TEMPO
       Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
       O Amor, o Tempo, a minha Amada
       E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
        O Amor passava-nos adiante
        E o Tempo acelerava o passo.

       -“Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
        A minha doce companheira!”

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento…
-         Porque voais assim tão apressados?
-         Onde vos dirigis?” – Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
                -Tende paciência, amigos meus!
                 Eu sempre tive este costume
De fugir com o tempo…Adeus! Adeus!

FÁBULA ANTIGA
No princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de Lince em olhos de Morcego.

Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vasou;
Foi a Demência logo às feras condenada,

Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou.

Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis laços,
Quando o Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos.

Nota – Poemas de António Feijó, transcritos por
Amândio G. Martins

                  




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