segunda-feira, 31 de agosto de 2015

DAS EMOÇÕES

                          INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Era uma tarde de Agosto em Nova Iorque, insuportavelmente quente e abafada, um daqueles dias em que o suor e o desconforto tornam as pessoas taciturnas e irritadiças. Eu estava de regresso ao hotel e quando entrei no autocarro, em Madison Avenue, fui surpreendido pelo condutor, um negro de meia idade com um sorriso entusiasta, que me acolheu com um amigável “viva, como vai isso?”, saudação que dirigiu a quantos iam entrando enquanto o autocarro ia avançando a passo de caracol por entre o denso tráfego da Baixa. Todos os passageiros ficavam tão surpreendidos como eu e, fechados no sombrio estado de espírito que o dia propiciava, poucos respondiam ao cumprimento.
À medida, porém, que o autocarro ia progredindo lentamente pelas ruas, ocorreu em todos nós uma gradual e mágica transformação. O condutor manteve um incessante monólogo em nosso proveito, um animado comentário da cena que ia desfilando lá fora: havia uns saldos óptimos naquela loja, uma exposição estupenda naquele museu, já ouviram falar do filme que estreou no cinema ao fundo do quarteirão? O encanto daquele homem com a riqueza das possibilidades que a cidade oferecia era contagiante. Quando as pessoas saíam do autocarro, já sacudidas para fora da sombria concha onde se tinham fechado, e o motorista lhes lançava um “Até à vista, tenha um óptimo dia!” todas lhe respondiam com um sorriso.
A recordação deste encontro está comigo há perto de vinte anos. Quando apanhei aquele autocarro em Madison Avenue tinha terminado o meu doutoramento em psicologia – mas a psicologia daqueles tempos dava muito pouca atenção aos mecanismos através dos quais uma tal transformação podia acontecer. A ciência psicológica pouco ou nada sabia a respeito da mecânica da emoção. E no entanto, imaginando o vírus de boa vontade que deve ter-se espalhado pela cidade, transportado pelos passageiros do autocarro, compreendi que aquele motorista era uma espécie de pacificador urbano, um mago dotado do poder de transmutar a saturnina irritabilidade que envolvia os seus semelhantes, de suavisar-lhes e abrir-lhes um pouco o coração.
* Em jeito de contraste, aqui ficam algumas notícias dos jornais recentes: Numa escola local, um garoto de nove anos perde a cabeça, despeja tinta em cima das secretárias, computadores e impressoras e causa danos num autocarro que se encontrava no parque de estacionamento. A razão: alguns colegas da 3ª classe chamaram-lhe “bebé” e ele quis impressioná-los.
* 57% das vítimas de assassínio com menos de 12 anos, diz um relatório, são mortas pelos pais ou pelos padrastos. Em quase todos os casos os pais declaram “que estavam apenas a tentar disciplinar a criança”. Os espancamentos fatais são provocados por “infracções” como pôr-se à frente da televisão, chorar ou sujar as fraldas.
*Vários jóvens ficaram feridos quando um empurrão inadvertido entre adolescentes degenerou numa luta a soco e pontapé e terminou com um deles a disparar para a multidão, coisa que se tornou banal por todo o país.
NOTA- Este texto pertence ao livro “Inteligência Emocional”, de Daniel Goleman – Círculo de Leitores, e foi transcrito por
Amândio G. Martins






Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.