sábado, 22 de agosto de 2015

"Poesirómano"

Queimei toda a poesia que fiz.
Se em algum dia fiz poesia
cortei essa fantasia pela raiz,
que me iludiu a vida e a alegria
e me trouxe até aqui infeliz;
Fui inquisidor e dono da fogueira
na causa própria que incendiei
e em que pequei na braseira
por faltar à verdade que a palavra diz
quando reclama do amor, da morte e sua lei;
Recusei na noite incómoda, as palavras
que me roubavam o ar, a vida, a paz e o sono
e destruí os papéis onde escrevi e teimei
falar de nós - mais de ti do que dos sonhos;
Rasguei os versos que pediam adorno
mas que não encontrei                          
se não silêncios medonhos
que chamavam pelo errante dono
com que tão mal me dei e tratei.
E nesses silêncios e nessas lavras
regadas por sangue morno
com tudo em cinza acabei,
debaixo de uma lua com o brilho de falsa flor
vermelha por fora, mas por dentro sem cor.
-(15/08/2015)

1 comentário:

  1. O poeta é um fingidor, como, acertadamente, disse o grande Pessoa. Vejam o poeta mouraria-mouraria, a dizer que larga fogo à poesia, descrevendo a acção em verso. O Pessoa é eterno e está sempre presente. Parabéns a quem confirma a pessoa genial que é o Fernando Pessoa.

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.