terça-feira, 27 de outubro de 2015

Agora tem mais um F


É voz do povo que Portugal, durante a ditadura, era o país dos 3 efes; Fátima, Futebol e Fado. Na verdade, esses fenómenos nas áreas da fé, do desporto e da música, serviam de bordão às dificuldades da vida. Mesmo nestas realidades vividas na sociedade, havia, e há, escalas de representação. Nossa senhora de Fátima sobrepõe-se a todas as outras santas e não é por acaso que os papas a reconhecem como a padroeira de Portugal e já visitaram o seu chão sagrado. No futebol há clubes que têm adeptos aos milhões e os de influência local, que funcionam como bordão de muita gente para as caminhadas da vida. Todos estes componentes faziam adormecer os efeitos das dificuldades diárias, semeavam a esperança num milagre de dias melhores ou de grandes vitórias do clube do coração. O fado, cantado de xaile ou cachecol, segundo o sexo dos intérpretes, mais restrito às tabernas, casas típicas de fado da área alfacinha, era-nos imposto como a canção nacional. Também o fado de Coimbra, mais localizado na área académica, apresentado de capa e batina, tinha apenas implantação nas elites universitárias. Após a revolução de Abril, estes efes, a princípio, foram glosados popularmente de formas ridicularizantes, dizendo-se que haviam sido os suportes do fascismo. Com o decorrer dos anos foram, paulatinamente, recuperados e nobrecidos, sendo elevados de tal forma a valores pátrios, que dois dos seus mais representativos intérpretes tiveram honras de panteão nacional, a fadista Amália Rodrigues e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira.
Numa investida internacional, tendo como embaixadores Carlos do Carmo e Marisa, gastámos centenas de milhares de euros para conseguir inscrever o fado como património imaterial da humanidade.
O futebol também foi enriquecido com actores de renome mundial. Do lote de jogadores e treinadores famosos, destaca-se o nome de Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos, que já tem estátua e museu na sua terra natal.
Quanto a Fátima, consagrada como padroeira de Portugal, só após a implantação do regime democrático teve a honra de ser abençoada com visitas papais. João Paulo II, esteve em Fátima por 3 vezes (1982,1991,200), O Papa Bento VXI, esteve no santuário em 2010 e o actual Papa Francisco, já tem anunciada uma visita em 2017, no centenário das aparições. A colossal Basílica da Santíssima Trindade foi inaugurada em 2007.
Como podemos constatar, os tais valores que, segundo alguma tradição popular, foram o suporte do dito fascismo, medraram imenso dentro do sistema democrático. E no topo de tudo isto, instalou-se entre nós mais um F (fome), que perpassa por inúmeras famílias, atingindo especialmente as crianças. E porque os valores humanitários não podem ser esquecidos, recuperámos as respostas que oficialmente e pela primeira vez haviam sido dadas com a Sopa do Sidónio (1918), durante a 1.ª Grande Guerra (1914-1918). Associações privadas, misericórdias, escolas e grupos caritativos lutam contra a miséria, instalada numa parte considerável da nossa população, fornecendo refeições ou produtos, para que sejam preparadas nas residências das famílias necessitadas. Agora somos o país dos 4 efes.

 27.10.2015               Joaquim Carreira Tapadinhas -  Montijo 

8 comentários:

  1. Peço desculpa se estiver errado, mas segundo penso, Fátima não é a nossa padroeira e no ano de 1967, cumpria eu serviço militar em Leiria quando recebemos a visita Papal de Paulo VI.

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  2. Amigo Jorge Morais - Na referência a visitas papais só encontrei as que referi e quanto à padroeira de Portugal é um pormenor, naturalmente importante na análise teológica, mas que nada adianta no conteúdo do artigo que refere um problema que está para resolver na vida nacional. Obrigado por ter lido o artigo e pelas rectificações.

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  3. Senhor Joaquim Tapadinhas, peço-lhe desculpa por ter-me referido apenas ao que estava errado, mas bem vistas as coisas, foi um sinal que concordava com aquilo quem quis dizer pois é a triste realidade. Poderíamos até acrescentar mais um F “Falido” e assim aproximar-se da cidade da Guarda com os seus 5 + 1 F. Aproveito para esclarecer que também estive até muito tarde convencido que a nossa padroeira era N. S. de Fátima e foi numa visita a Vila Viçosa que fiquei a saber quem era N. S. da Conceição. Sobre a visita papal, não me posso esquecer que foi graças à sua visita em 1967 que “lerpei” um fim-de-semana sem vir a casa.
    Renovo o meu pedido de desculpas pela minha indelicadeza.

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  4. Amigo Jorge Morais- Agradecendo as suas palavras, quero salientar que não me senti ofendido, e que elas que serviram para aumentar os meus conhecimentos,rectificando informações incorrectas. Um abraço lusitano.

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  5. Com padroeira ou sem ela, não resta a mais pequena das dúvidas que "F" não nos faltam, até o estamos!

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  6. Com mais 'F', menos 'F', a nossa viagem democrática vive um lamentável impasse. Serão precisos mais 40 anos para tão grande passo de caracol?

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  7. Publicado hoje (31.10.2015) no Expresso, com muitos cortes, que de certa forma não explica correctamente a mensagem. De qualquer modo foi simpático o jornal ter acolhido este escrito.

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  8. A minha mensagem está a ser compreendida. Hoje, o jornal Público publicou, na íntegra, este meu artigo que tem uma correcção que me foi sugerida, e bem, pelo amigo Jorge Morais.

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