quinta-feira, 22 de outubro de 2015

DESFAÇATEZ

                                  DESCARAMENTOS QUE DÃO MUITO JEITO…
De tudo quanto se pode observar, ao longo da vida, ocorre-me relatar um daqueles casos de lavradores ricos que conheci bem, para quem era importante preservar a casa de lavoura da família nos mesmos termos em que a recebera dos antepassados, e que consistia em proporcionar ao filho mais velho ser detentor  da maior fatia dos bens, cabendo aos restantes apenas umas migalhas;  era-lhes permitido, todavia, se para tal tivessem cabeça e o pai dinheiro suficiente, fazer um curso que lhes garantisse futuro.
Se os dinheiros não abundavam, os rapazes, com a prestimosa colaboração do senhor prior da terra, que atestava a idoneidade moral da família, eram mandados para o seminário, quer tivessem ou não vocação para padre, porque a vocação apareceria com o andar dos tempos e, como quer que fosse, sempre era melhor estar no seminário do que nos campos a contribuir para o sucesso do primogénito; às raparigas restava esperar que um filho “morgado” de outra casa rica se engraçasse com elas, ou então ficariam escravas da casa até que a morte as “libertasse”…
No caso em apreço, o moço, que tinha imenso jeito para lidar com animais, escolheu estudar veterinária; mas aconteceu que, apanhando-se noutro ambiente, passou o tempo todo na estroinice e, passados os anos que supostamente duraria o curso, apresentou-se em casa “doutor veterinário”, para orgulho da família e da terra, levando o regozijo do “velho”ao ponto de lhe oferecer uma festa como nunca houvera outra na aldeia.
Quando, ia animado o repasto, um dos criados da casa foi chamar o patrão porque a melhor vaca leiteira não comia  nem se conseguia levantar, o lavrador quase que deu graças a Deus pela oportunidade proporcionada ao novo veterinário de pôr em prática o que tinha aprendido.
E o “doutor” não se mostrou nada acanhado. Chamou o irmão mais velho, mandou-o postar-se do lado traseiro do animal e espreitar por um dos “buracos” aí situados, enquanto ele, espreitando pela boca, ia perguntando ao mano se o conseguia ver…Perante a resposta negativa, afivelou um ar de caso sério e disse ao pai que, infelizmente, o mal que a vaca tinha era “nó na tripa”, doença nada fácil de curar, mas que não estava ali para outra coisa!...                                  ///…///
Das minhas trinta e três amantes/Apenas três me não traíram;
Mas dessas três, sempre constantes/ Duas por fim também partiram.
De amor eterno, alto, modelo/ Foi uma só, das trinta e três…
Mas essa, em paga do seu zelo/Sou eu que a engano muita vez…

NOTA – Texto de Amândio G. Martins e poema de António Feijó.


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