segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ENGANA MENINOS

                                                        PARAÍSOS CHEIOS DE NADA
O ar livre é o primeiro terreno de investimento no lúdico. Desliza-se na água, lança-se uma pedra, escorrega-se num tronco, mergulha-se de uma rocha. O homem revê-se na busca de experimentar a natureza que lhe oferece o seu corpo de diversão, onde tudo começa, Terra-mãe, local das primeiras exorcizantes sensações.
O homem das cavernas imitava-se representando-se nas paredes dos seus abrigos, desenhava as suas investidas de caçador, os animais, o que via. De um pedaço de pau fazia uma arma, de um bocado de pele uma protecção. Transformava o que podia para sobreviver e para se entreter, pintava e explorava o seu meio.
Muitas vezes usou formas extremas de rir, como no Coliseu, em Roma, onde aplaudia a morte. Montou no dorso de animais que o transportavam, partiu no gozo do desconhecido e foi transformando o mundo, a ele adequou as suas maneiras de brincar, tirou partido da evolução que ia criando.
Walt Disney, com um enorme desejo de entreter as pessoas, de as fazer esquecer o dia a dia e aproveitando ao máximo o progresso tecnológico da sua época, põe em marcha o seu sonho. E nascem os parques temáticos, mundos apolíticos, limpos, risonhos, com personagens fantásticas que nos abraçam – os príncipes, os bichos, as histórias do nosso encanto.
Entrar no mundo artificial e mágico dos parques temáticos afugenta a nossa capacidade crítica. Na Euro-Disney embarcamos enfeitiçados pelos longos desfiles de cor e luz, temos os bonecos ali ao nosso lado, podemos tocá-los. Lá estão todos os ingredientes para nos adormecer . O clima irradia muita emoção, festa permanente, transbordante de prazer e vertígem; não é preciso pensar em mais nada.
Estes parques são o ponto culminante da nossa era de lazer e divagação, experiências sensoriais, paraízos do nada.

NOTA – Texto extraído de um trabalho de João de Arbués Moreira, publicado há anos pelo JN e transcrito por

Amândio G. Martins

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