segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

SALVAR ALMAS...

                              DA GRANDEZA MORAL DO HOMEM BRANCO…
… E neste dia houvemos vista de terra, à qual o capitão pôs o nome de Terra de Vera Cruz. E dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, todos nus, sem nunhuma roupa que lhes cobrisse as vergonhas. E andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, e suas vergonhas, tão limpas das cabeleiras, que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. E uma daquelas moças era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela.
Não estimam nada cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disto com tanta inocência como em mostrar o rosto. Deram-lhes ali de comer mas não quiseram quase nada, e alguma coisa, se provavam, lançavam-na logo fora.     (…)
Andam muito bem curados e muito limpos, gordos e formosos que não podem ser mais (…) e andavam já mais mansos e seguros entre nós do que nós andávamos entre eles. Disse o capitão que seria bom irmos direitos à cruz e que nos puséssemos todos em joelhos e a beijássemos para eles verem.. E não duvido, segundo a Santa tenção de Vossa Alteza, fazerem-se cristãos e crerem na nossa Fé.
Eles não lavram nem criam animais, nem comem senão desse inhame que aqui há muito. E com isto andam tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto com quanto trigo e legumes comemos. (…)
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse, mas não fazia por com ele se cobrir. Assim, senhor, que a inocência desta gente é tal, que a de Adão não seria mais em vergonha.
A terra é de muito bons ares, assim como os de Entre-Douro e Minho, porque agora assim os olhamos como os de lá. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente.  
  
      Pêro Vaz de Caminha.
                                           ///…///
Os moradores da Costa do Brasil todos têm terras de sesmarias, e a primeira coisa que pretendem alcançar são escravos para eles fazerem e granjearem suas roças e fazendas, porque sem eles não se podem sustentar na terra. É uma das coisas porque o Brasil não floresce mais, é pelos escravos que fugiram, E se esses índios não fossem tão fugitivos, não tivera comparação a riqueza do Brasil.  (…)
E assim há também muitos escravos da Guiné, que são mais seguros que os índios porque nunca fogem nem têm para onde. As pessoas que no Brasil querem viver, por pobres que sejam, se cada um alcançar dois pares ou meia dúzia de escravos, logo têm remédio para sua sustentação, porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem a fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente com mais descanso que neste Reino.  (…)
Estes índios andam nus assim machos como fêmeas, trazendo descoberto quanto a natureza lhes deu, e assim vivem bestialmente, sem ter conta, peso nem medida.
Pela terra dentro dez léguas edificaram os padres uma povoação na qual vivem muitos moradores, a maior parte deles filhos de portugueses e de índias. E têm feito os padres da Companhia de Jesus grande fruto. E trabalham por fazer cristãos a muitos índios; também fazem por restituír a liberdade a muitos deles, que alguns moradores têm mal resgatados.
Há nesta terra uma fruta que lhe chamam bananas, que se parece com pepinos. Estas bananas criam-se em cachos e causam febre a quem se desmanda delas. Com esta fruta se mantém a maior parte dos escravos.
Não se pode numerar a multidão de bárbaro gentio que semeou a natureza por toda esta terra do Brasil, muito desonestos e dados à sensualidade e aos vícios; e não têm cuidado de coisa alguma senão comer e beber e matar gente.
 Mas os governadores destruíram-nos pouco a pouco, só ficando alguns que são de paz e amigos dos portugueses.

Pêro de Magalhães Gândavo

 NOTA – O texto acima foi compilado dos escritos de Pêro Vaz de Caminha e de Pêro Magalhães Gândavo ao seu rei .  Transcrito por
Amândio G. Martins



1 comentário:

  1. Hoje restam meia dúzia deles. A cruz numa mão, a espada e a chibata na outra...

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