quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

AGOSTINHO DA SILVA

SEM TÍTULO (1981)

Acho graça às homenagens
Que me prestam,
Excelente sinal de ilusões
Que a eles restam;

Sou tão humano quanto os outros
Com qualidades e defeitos
E mais as manhas que se escondem
Em seus peitos;

Se a hora mo facilita
Já resplendo,
Mas, se estreita é a passagem,
Me defendo;

Audácia nunca me falta,
Com ela ataco,
Mas também já tenho dado
Parte de fraco;

Só pura sorte me tem levado
Ao melhor de mim,
Nem sempre os meios de que me sirvo
Valem o fim;

Sinto que os êxitos são o que tinha
De acontecer,
Comigo ou outro tudo seria
Igual vencer;

Mas sempre é isto o que sucede
Com toda a gente,
De baços astros rolando vagos
Luz aparente;

De nós nada mais deixamos
Que vãs memórias,
Só Deus é grande, só Deus é santo
E o demais histórias.

NOTA – “Dispersos”, de Agostinho da Silva, transcrito por
Amândio G. Martins






5 comentários:

  1. Este é o imenso Agostinho, que merece mais respeito dos intelectuais portugueses que aquele que lhe têm dedicado. Eu julgo que a distância, entre ele e a vulgaridade de muita gente que está em cena, é o motivo de não reconhecerem o seu profundo valor como homem da cultura.

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  2. Mas já vai havendo, senhor Tapadinhas, muitas referências a esta importante figura. Importante seria que alguma editora o divulgasse de forma acessível ao público.

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  3. Muito obrigado por se interessar por esta figura de intelectual, ímpar da nossa literatura, filosofia e cidadania. A Editora Zéfiro edita a obra de Agostinho da Silva, tal como a Revista Nova Águia que segue na órbita do pensamento do filósofo. Eu, quando refiro que é preciso fazer mais pelo conhecimento da sua obra e pensamento, penso nas entidades oficiais, que deviam instituir uma cadeira em qualquer Faculdade de Letras para estudar a obra do Mestre. Sou sócio da Associação Agostinho da Silva e o único apoio oficial que lhe é prestado é a cedência de um espaço numa Junta de Freguesia de Lisboa, que funciona como sede. Também esse intelectual incontornável que é Fernando Pessoa, merecia uma cadeira no ensino superior. Um abraço lusitano e um BOM ANO.

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  4. São assim os homens grandes. Nunca se evidenciam. Mas, também por isso, temos o dever de os observar com toda a atenção e respeito.

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  5. Tenho muitas saudades do Grande AGOSTINHO DA SILVA, que gostava de falar com o seu gato, pois muitos homens com ele não conseguiam falar, porque eram estupidamente surdos.

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