quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

DOS ESTUDIOSOS

                                               OS ORGANIZADORES E OS UTOPISTAS
Os escritos sociológicos são, demasiadas vezes, ou meramente técnicos e práticos ou então meramente utópicos. Os técnicos prestam um bom serviço ao criticarem os métodos correntes da organização social e em alvitrarem melhorias pormenorizadas. Mas, como todos os organizadores, estão sujeitos, no meio dos tecnicismos administrativos, a esquecer o que é que estão a organizar; como todos os críticos de pormenor, são inclinados a aceitar, demasiado complacentemente, a principal moldura da estrutura, cujos pormenores estão a tentar melhorar. Não são nenhuns utopistas a meditar nas coisas como elas deviam ser, mas não o são. Aceitam as coisas como elas são, mas sem lhes fazer qualquer crítica, porque, juntamente com as instituições sociais existentes, aceitam aquela concepção da natureza humana que as instituições implicam.
Os utópicos, por outro lado, nada aceitam. Estão demasiadamente preocupados com o que devia ser, para prestarem qualquer atenção séria ao que é. A realidade exterior desgosta-os; o sonho compensador é o universo em que vivem. O assunto das suas meditações não é o Homem, mas sim um monstro de racionalidade e virtude – de uma espécie de racionalidade e virtude, nesse aspecto, só deles. Os habitantes da Utopia são radicalmente diferentes dos seres humanos. Os seus criadores gastam toda a sua tinta e energia a discutir, não o que na realidade acontece, mas o que aconteceria se os homens e as mulheres fossem completamente diferentes do que são e do que, através dos anais da História, sempre foram.

NOTA – Texto de Aldous Huxley, transcrito por

Amândio G. Martins

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