sexta-feira, 22 de julho de 2016

Veraneantes do asfalto

Sempre que chegamos aos meses quentes do ano, em que alguns vão de férias e nelas andam 9 meses a pensar, tempo de gestação suficiente, lá vêm eles, os guerreiros do asfalto, manifestarem a sua indignação pelo pagamento de portagens em estradas e pontes de luxo. Sabendo-se que mais de metade dos portugueses não têm condições sequer para sair de casa, os restantes carregam as bagagens, assentam as bicicletas no tejadilho, pranchas de surf, atrelam os barcos e as motos de água, e lá vão eles nos seus belos automóveis com o pé no acelerador até ao destino programado e marcado com tempo. Mas contudo acham que não devem pagar as portagens. Enquanto reclamam pela sua extinção neste período de férias, os que ficam presos à terra e enterrados nas suas dificuldades, carregam a enxada, pegam no tractor, roçam o mato e tratam de a cuidar e preparar as culturas e as vindimas. Nestes o suor pinga e é preto e a bucha é dura. Os outros que se lançam na aventura e no gozo e fixam à pele o bronze ideal, e se preparam para a mesa com nota artística, suam mas de prazer entre o biquini amarelo ou florido, e a santola cozinhada. Os que ficam enrubescem ao sol e de raiva pela conta que lhes há de aparecer, sem que tenham tirado benefício algum do abaixamento do pagamento das passagens dos bólides pelas autoestradas num engarrafado movimento, para cima e para baixo, mais cedo ou mais tarde. Ora se os que partem de férias têm "graveto" que chegue para hotel, casa de férias, lagostins, recuerdos, e outros prazeres animados, por que razão não hão de pagar as portagens nas estradas por onde rolam, e querem é que a conta seja dividida e apresentada depois a todos os 11 milhões(!) de  portugueses? É sabido que quem agora tira depois exigirá a reposição das verbas no Orçamento fragilizado da Nação rapada, caso o Governo ceda à pretensão dos veraneantes e em turismo pelas praias, hotéis, resort´s, bungalow´s, esplanadas frescas, a chuparem pela palhinha à sombra da bananeira, mas à pala do zé que fica na barraca, debaixo da ramada, ou no banco do jardim junto à casa ou do coreto, e que será chamado a equilibrar as finanças, mal acabe a saison y las vacaciones. Admira no meio disto tudo, que as reivindicações destes abonados viajantes, não exijam também o depósito atestado do carro para se porem ao fresco, recarregarem baterias, e comparticipado por todos nós. São pouco ambiciosos no que pedem ao Governo. Desejamos que hajam cada vez mais pessoas e famílias a poderem viajar e gozar os prazeres da vida. Mas como em tudo, quem tiver dinheiro que pague os luxos, e a mais não será obrigado... futuramente. Nem os outros. Ou só há crise e dores de cabeça para alguns?


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