No Centro de Apoio aos sem-abrigo, anda por lá o Presidente
Marcelo. O que faz este homem, que nos intervalos da ida ao mar, após espalhar
afectos e tecer comentários, aceita percorrer os caminhos polémicos, marginais,
e outros de compaixão esfarrapada? Lugares dos deserdados e vítimas de
injustiças várias, umas provocadas, outras por culpa própria, mas todas filhas
do mesmo país, a que Marcelo preside e carrega, responsabilidades? Que
penitência anda a pagar, este solteirão pós divórcio, que até veste avental caridoso,
na hora de distribuir alimento pela noite aos sem abrigo, que pagamento parece
ser, e não só gesto de cristandade, mas remorso, tudo indica - assim nós
pensamos, ou a tal ele nos conduz? Que personalidade se esconde no homem que
coexiste debaixo do fato de Chefe de Estado, criador de expectativas e de ondas
suspeitas a todo o momento, levantadas por tanta generosidade, e ao mesmo tempo
fabricante de imagem bem diferente da dos seus antecessores, que se moviam na
formalidade mais acentuada que o cargo requer, recomenda, e a que nos
habituaram, e faz a nossa cara, dentro de uma história com muitos rostos
culpados de tão má situação económica e desigualdade social? Quem se decide a
decifrar este comportamento mainstream,
e o que ele nos pode revelar do homem esforçado, que se intromete em todas as
áreas que dê visibilidade e aonde recolhe protagonismo, como quem precisa dele
para outros voos e fins inconfessáveis ou surpreendente? Responda quem souber,
se houver quem jure conhecê-lo melhor, do que este interveniente banal e
caseiro, mal informado, que sem pretexto aprofundado, levanta desconfiança sobre
o homem e presidente que viveu sempre bem abrigado numa redoma de vida
privilegiada, mas como quem arrasta dívida à sociedade, a querer saldar, com
gestos de solidariedade forçada, espectacular, de arrependimento, como quem não
quer partir sem o ter feito a tempo e horas. Enquanto isto, no Panteão, todos
os felizardos comem e bebem num fartar vilanagem, sob a luz especial, de brilho
mortal, que ilumina outra história. Mal contada, polémica, e estranha também!
*-(publicado no DN.madª-14/11/017)
Muito bem escrito, muito oportuno e muito profundo. Este Presidente da República é um homem incomum e é difícil atingir toda a sua capacidade de acção. Eu não votei nele, mas, felizmente, outros votaram em número suficiente para o eleger. Quanto ao jantar no Panteão é o reflexo das coisas mal pensadas e apenas, o que é muito, exibicionismo bacoco. Obrigado ao Amigo Joaquim Moura por nos trazer mais esta reflexão.
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