domingo, 12 de novembro de 2017

O com-abrigo

No Centro de Apoio aos sem-abrigo, anda por lá o Presidente Marcelo. O que faz este homem, que nos intervalos da ida ao mar, após espalhar afectos e tecer comentários, aceita percorrer os caminhos polémicos, marginais, e outros de compaixão esfarrapada? Lugares dos deserdados e vítimas de injustiças várias, umas provocadas, outras por culpa própria, mas todas filhas do mesmo país, a que Marcelo preside e carrega, responsabilidades? Que penitência anda a pagar, este solteirão pós divórcio, que até veste avental caridoso, na hora de distribuir alimento pela noite aos sem abrigo, que pagamento parece ser, e não só gesto de cristandade, mas remorso, tudo indica - assim nós pensamos, ou a tal ele nos conduz? Que personalidade se esconde no homem que coexiste debaixo do fato de Chefe de Estado, criador de expectativas e de ondas suspeitas a todo o momento, levantadas por tanta generosidade, e ao mesmo tempo fabricante de imagem bem diferente da dos seus antecessores, que se moviam na formalidade mais acentuada que o cargo requer, recomenda, e a que nos habituaram, e faz a nossa cara, dentro de uma história com muitos rostos culpados de tão má situação económica e desigualdade social? Quem se decide a decifrar este comportamento mainstream, e o que ele nos pode revelar do homem esforçado, que se intromete em todas as áreas que dê visibilidade e aonde recolhe protagonismo, como quem precisa dele para outros voos e fins inconfessáveis ou surpreendente? Responda quem souber, se houver quem jure conhecê-lo melhor, do que este interveniente banal e caseiro, mal informado, que sem pretexto aprofundado, levanta desconfiança sobre o homem e presidente que viveu sempre bem abrigado numa redoma de vida privilegiada, mas como quem arrasta dívida à sociedade, a querer saldar, com gestos de solidariedade forçada, espectacular, de arrependimento, como quem não quer partir sem o ter feito a tempo e horas. Enquanto isto, no Panteão, todos os felizardos comem e bebem num fartar vilanagem, sob a luz especial, de brilho mortal, que ilumina outra história. Mal contada, polémica, e estranha também!

*-(publicado no DN.madª-14/11/017)


1 comentário:

  1. Muito bem escrito, muito oportuno e muito profundo. Este Presidente da República é um homem incomum e é difícil atingir toda a sua capacidade de acção. Eu não votei nele, mas, felizmente, outros votaram em número suficiente para o eleger. Quanto ao jantar no Panteão é o reflexo das coisas mal pensadas e apenas, o que é muito, exibicionismo bacoco. Obrigado ao Amigo Joaquim Moura por nos trazer mais esta reflexão.

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