quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Vamos ao que importa


O novo ano aproxima-se e, nem que seja por mimetismo com os escribas encartados, não fujo à tentação de dar uma olhadela ao que agora termina, para fazer o respectivo e inevitável balanço, embora despretensiosamente incompleto. A minha apreciação é moldada pelos valores fundamentais que me norteiam: Igualdade, Fraternidade, Liberdade, por esta ordem, aos quais junto a justiça (sem maiúscula, para não se confundir com o aparelho judiciário). A Igualdade, naturalmente, entende-se num contexto de acesso a oportunidades, e estamos muito longe de a conseguir, se é que alguma vez lá vamos chegar. A Fraternidade também não é coisa que se encontre ao dobrar da próxima esquina, que o bicho-homem é, de facto, muito retorcido e permeável a sentimentos primariamente mesquinhos, malévolos e egoístas. A Liberdade aparece em último lugar porque tem efeitos que não são iguais em todas as pessoas: se ela for plena, os mais débeis que se acautelem, facto que aconselha a expropriação de toda a liberdade aos inimigos da liberdade (Saint-Just), tarefa difícil porque alguém tem de ajuizar, e nunca saberemos se o estará a fazer com probidade. Quanto à justiça, enfim, é bom sonhar.

Começando pelo País, julgo que tivemos um ano mais feliz do que os anteriores, apesar de agruras provavelmente evitáveis (pelo menos em parte), como os pavorosos incêndios que dizimaram o interior, bem como algumas derrapagens governamentais. Vivemos menos crispados e ensimesmados, menos desanimados e infelizes, menos tristes e bisonhos. Respirou-se mais confiança e esperança, sentimentos que regressaram com o afastamento de certos dirigentes, macambúzios por gosto e por suposto dever. É claro que continua a haver gente zangada com a vida, mas isso será sempre inevitável. Penso que a felicidade é querer-se o que se tem, não querer-se o que ainda não se tem (Agustina Bessa-Luís?) e muitos não o compreendem/sentem.

O Mundo não esteve muito bem, com a entrada de rompante, durante o ano, do pato americano que é pena não se ter mantido na Disney, de onde nunca devia ter saído. O Donald, mais rico do que o Patinhas, ainda quer acumular mais moedinhas, sempre à custa dos papalvos que, desiludidos (e com razão), pensam que a prosperidade vem por essa via, apesar de, sem papas na língua, o biltre lhes anunciar com desfaçatez que lhes retira segurança social, protecção na doença e lhes aumenta os impostos, naturalmente para poder aliviar os que impendem sobre si e a sua própria classe. Ainda não é a luta de classes porque ele consegue enganá-los com maestria e, como rebuçado, dá-lhes a facilidade de usar e abusar de armas “legais”, para protegerem as suas “liberdades”. E até lhes mostra “como é”, envolvendo-se num jogo de tabuleiro, chamado de guerra, com um atrasado mental do seu calibre, que se chama Kim Jong-un. Esperemos todos que, antes de se pegarem à “chapada”, lhes tirem o tabuleiro, a um e a outro, e os ponham no canto da sala com orelhas de burro. Apelemos a Santo Guterres.

E a Voz da Girafa? Já teve melhores dias. Nem sempre cumpre os objectivos que se presume terem levado os fundadores a criá-la. Ninguém o poderá tornar melhor, a não ser nós mesmos, os autores (QUE É FEITO DAS AUTORAS?). Oxalá contribua para o debate de ideias, com respeito e tolerância, na defesa dos valores que referi acima, bem como de outros igualmente louváveis. Se todos escreverem posts e comentários que, em consciência, julgam publicáveis em qualquer jornal, estou certo de que não haverá problemas de maior. Afinal, a Girafa não é um blogue de leitores-escritores de cartas para jornais? Por fim, pena que alguns nos tenham abandonado. Pode ser que regressem em 2018, e aqui fica o respectivo apelo.

Isto é o que importa, o resto não passa de espuma, mais limpa ou mais suja.

2 comentários:

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