segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O MASSACRE SILENCIADO



Quem é que desconhece a gentalha que há por aí que descarrega as suas frustrações, a sua insensibilidade, a sua crueldade, nos animais? Quem é que também ignora que as associações que existem para os proteger são escassas, não têm meios, ou que essa “proteção”, nalguns casos, será isso mesmo; com aspas? Finalmente, também não será novidade para ninguém a imensa limitação dos canis/gatis municipais.
Quase toda a gente sabe tudo isto, só não sabe, tal como eu não sabia, a dimensão deste problema. E ela é tal, que nos deveria envergonhar a todos, a começar pelos que elegemos para o poder local e, sobretudo, central.
A revista Visão, na sua edição de 4 a 10 deste mês, traz uma extensa e muito completa reportagem sobre esta matéria, em que levanta a cortina e revela um autêntico mundo de horrores. Um massacre silenciado sobre esses tão afetuosos nossos amigos de 4 patas, sobretudo, cães e gatos. E revela também o quão fácil é criar-se uma associação de proteção e que depois, o quanto algumas deixam a desejar. Outro aspeto também bastante negativo é que, apesar da legislação já existente que penaliza quem os maltrata, ela é tão parcamente aplicada. Uma ridícula média de 78 crimes por mês registados pela GNR em todo o país o ano passado. Muitas denuncias não dão em nada, porque, segundo esta força de segurança ou a PSP, as provas não são suficientes e os animais continuam a ser massacrados e o desfecho, tal como testemunhos e fotos documentam, é absolutamente chocante com animais espancados, mutilados ou acorrentados e a morrerem literalmente à fome e à sede, ou ainda metidos em gaiolas ou amontoados em cubículo ou em cercas ao rigor do tempo. E o abandono que tem aumentado como diz o veterinário Mário Ferreira “Há anos que não havia tantos animais largados no início da época da caça.”
Não fora o trabalho voluntário de particulares onde se incluem alguns veterinários procedendo a esterilizações, e o cenário ainda seria mais negro, mas não deixa de ser uma gota de água, face ao mar de necessidades.
Para os 308 Municípios, existem apenas 128 Centros de Recolha de Animais.
Em setembro deste ano, deverá entrar em vigor a lei aprovada na AR que proíbe nos Centros de Recolha (canis e gatis municipais) o abate de animais. Até agora, anualmente, são abatidos 100 mil.
Com os 128 Centros de Recolha a rebentarem pelas costuras, alguém imagina como será depois? Quem é que se preocupa com isso? Preocupa-se uma minoria! Aliás, neste jardim à beira mar plantado, neste país de brandos costumes(?) em relação aos animais, a coisa resume-se assim: há uma minoria que os maltrata, outra que os protege, e a grande maioria que lhes é indiferente. E os Poderes Públicos, local e central, refletem isso mesmo.
Do alto da sua autoridade moral, Mahatma Gandhi, afirmou: “ A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”.
Cada um que julgue a grandeza da nossa…
Francisco Ramalho
Corroios, 8 de Janeiro de 2018





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