sábado, 20 de janeiro de 2018

Quase todos nós, temos uma pequena localidade ou uma aldeia, no nosso coração, que faz parte das nossas vidas, das nossas memórias. Pelos laços familiares, pela vivença enquanto crianças ou jovens, ou por outros motivos.
A minha, chama-se Sabrosa, no Alto Douro. Foi aqui que nasceu o meu progenitor. Costumo dizer que Sabrosa é terra natal de três grandes personalidades: Fernão de Magalhães, Miguel Torga e Manuel Valdigem.
O meu pai imigrou para a Trofa ainda muito jovem, para trabalhar na Farmácia Trofense. Porque era muito responsável e cumpridor, os patrões queriam casá-lo com uma das filhas. Mas um dia deu de caras com a Rita, filha do Lino do Carqueijoso, e enfeitiçou-se. Dessa união, nasceram 3 marmanjos, dos quais eu, sou o do meio.
Na década de 50, duas ou três vezes por ano, viajávamos até Sabrosa para abraçar a família. Inicialmente no táxi do tio Simeão (irmão do avô Lino). Posteriormente, em carro próprio. E lá íamos nós, Marão acima, pela velhinha N-15. Nunca menos de 4 horas

Agora é que vem o lado engraçado da história.

Após o jantar, ninguém escapava à missinha. A minha avó (e madrinha), viúva de longa data, a todos impunha a sua autoridade. Era mais de 1 hora, em que o terço dava várias voltas. Um martírio!
- Pelos velhinhos desamparados, ( a prole respondia: rogai por nós).
- Pelas crianças abandonadas, rogai por nós.
- Pelo Santo Padre, rogai por nós.
- Pela Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós.
- Pelo nosso Bispo António, rogai por nós.
- Pela conversão da Rússia, rogai por nós (aqui o meu pai não respondia).

E a mais desconcertante: PELA CONSOLAÇÃO DAS VIÚVAS, rogai por nós. Aqui a minha mãe fazia um esforço suplementar para não escandalizar os presentes, pedia autorização para se ausentar e refugiava-se na cozinha para aliviar o sufoco.

A todos os colegas da Voz, desejo um bom fim de semana.

José Valdigem

8 comentários:

  1. Durante cerca de 30 anos passei de manhã cedo pela Trofa quase diariamente; comprava o jornal no quiosque do Pedro, ia lê-lo para o café D. Pedro, ou pastelaria Miranda, quando aquele estava de folga e tomava o primeiro café do dia, de um exagero de sete até ao fim ao fim da tarde. Há da Trofa várias coisas que recordo, sendo que a mais importante não posso revelar aqui; depois vem o bacalhau da Julinha, no Souto de Bairros, bacalhau mesmo, nada a ver com aquilo do Quim Barreiros, e uma figura que eu achava meio espalhafatosa, que era o comendador Eduardo Reis, que mandou erigir a si próprio uma estátua no jardim da mansão...

    Na minha aldeia também se rezava dessa forma em casa; e tinha um vizinho que, conforme ia desfiando o rosário e se lembrava das tarefas da casa, ouvia-se uma ladainha deste tipo: "Pai nosso, que estais no céu(deste comida aos porcos, Rosa), Avé Maria, cheia de graça(tiraste o leita à cabra, Custódia), e assim por aí fora até ao fim...

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    1. Ah, ah, ah! A minha Avó era mais comedida e somente ditava um olhar reprovador ao meu tio, que já era malandro, quando ele tentava "acelerar" para ver se acabava aquele ror de "Avé Marias", uma por cada uma das operárias da fábrica, que não o deixava ir fumar o cigarrito às escondidas... E, confesso, tudo aquilo era bem "chatinho" mas, reconheço, com profundo significado social e ético.

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    2. Ó Amândio, o café/pastelaria Miranda, outrora uma casa de referência, atravessa actualmente, um período crítico. Consta que já não pertence à família. Eram muitos a comer da mesma gamela. A Julinha continua sendo... O bacalhau frito, é mesmo, na minha opinião, o ex-libris cá da terra. Quem mais fomentou a especialidade já encerrou há mais de 20 anos, a Benedita, também conhecida (e assumida) por Caralha. O dito cujo, na versão de "na brasa", merecedor de medalha de ouro, sei bem onde fica: em Poiares, Taberna Afonso.
      O comendador mandou também colocar por toda a cidade, na via pública e em estabelecimentos comerciais, painéis com a sua imagem e textos da Bíblia. Ele viveu na Venezuela, e assistiu ao assassinato de um filho. Tem que se lhe dar um desconto...

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    3. Ó Amândio, o café/pastelaria Miranda, outrora uma casa de referência, atravessa actualmente, um período crítico. Consta que já não pertence à família. Eram muitos a comer da mesma gamela. A Julinha continua sendo... O bacalhau frito, é mesmo, na minha opinião, o ex-libris cá da terra. Quem mais fomentou a especialidade já encerrou há mais de 20 anos, a Benedita, também conhecida (e assumida) por Caralha. O dito cujo, na versão de "na brasa", merecedor de medalha de ouro, sei bem onde fica: em Poiares, Taberna Afonso.
      O comendador mandou também colocar por toda a cidade, na via pública e em estabelecimentos comerciais, painéis com a sua imagem e textos da Bíblia. Ele viveu na Venezuela, e assistiu ao assassinato de um filho. Tem que se lhe dar um desconto...

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  2. Eu era assinante do "Jornal da Trofa", no tempo do prof. Napoleão Marques como Director, e via que o comendador Eduardo ocupava sempre grande espaço com versos alusivos à tal tragédia familiar vivida na Venezuela; e aquando das festividades à Senhora das Dores comprava uma página no JN, no caderno que o jornal dedicava à festa, onde saía o mesmo tipo de versos e publicitava um livro com muitos floreados, indiciando já que não andaria bem da cabecinha...

    Também cheguei a "manducar" na Benedita e na Lina, do lado esquerdo e direito da estrada, respectivamente, no sentido Trofa-Vila do Conde.

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    1. Era comendador e pronto...
      E nessa estrada, não é, agora, o leitão assado?

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  3. Não, aí não havia essa iguaria; haviado do outro lado, se bem me lembro, uma casa na nacional 14, Porto-Braga, que publicitava o tal bichinho...

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  4. Parece-me que ambos estão correctos: o "bichinho" existe na 14, mas também na Trofa-Vila do Conde, à esquerda neste sentido. E, lá, até parece que estamos na Bairrada...

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