sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018


Arrivistas deslumbrados


Conheci o homem no ambito da minha actividade profissional; deslocava-se numa carripana de caixa aberta, vestimenta salpicada de argamassa, e não poderei dizer que me deixou má impressão pessoal, além de que tenho imenso  respeito por quem se agarra ao trabalho, que foi o que também sempre fiz.

Entretanto, alavancado naqueles processos que, em muitos casos, deram aos bancos  “imparidades” que os puseram nos “cuidados intensivos”, a carripana depressa deu lugar a carros de alta gama e os mamarrachos ostentando a  placa da sua firma nasciam por todo o lado.

Todavia, nunca se proporcionou qualquer oportunidade de negócio até que, a certa altura, lhe surgiu um empreendimento cujo cliente lhe exigia produtos da marca que eu representava, para o que se programou uma entrevista com ele, o seu cliente e eu, tendo ficado tudo acertado.

Comprometi-me com o proprietário a ir acompanhando o andamento dos trabalhos, só que um seminário em Lisboa afastou-me por alguns dias e, quando lá voltei, verifiquei logo que tinha havido mixórdia, com muita área acabada para tão pouco produto usado...

E como, do meu lado, o problema era bem mais sério do que perder uma fatia do negócio para a “candonga”, dado que o dono contava com o nosso prestígio como garantia, levei o assunto a sério, informei o proprietário do que se passava e que, num tal quadro, não podíamos ser responsabilizados por qualquer anomalia.

Desconheço que garantias o habilidoso assumiu com o cliente, dado ter-me afastado do assunto e este ter desistido de me questionar; mas, uns dias depois, recebi do sujeito um telefonema a prevenir-me que tivesse cuidado quando, na estrada, me cruzasse com os seus camiões...

Mais tarde, já livre daquele tipo de gente, vi pelos jornais que o figurão tinha assumido a presidência de um clube da primeira Liga de futebol, facto que lhe permite ir gozando do estatuto de figura pública enquanto que, nas empresas, os empregados passaram o Natal sem salário nem subsídio e assim continuam, como foi noticiado no JN. E isto é tanto mais estranho quanto os verdadeiros empresários  que operam nessa área se manifestam cada vez mais optimistas.


Amândio G. Martins

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